Mais um excelente editorial da Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de Novembro.
«O regime austeritário é tudo isto. Uma engenharia neoliberal, aplicada a Estados colaborantes, que subjuga pelos instrumentos da dívida e que, desta vez, atinge países sem autonomia monetária, com estruturas produtivas frágeis e com padrões de especialização particularmente prejudicados pela inserção numa União Europeia disfuncional e pela pertença a uma moeda forte. É a mais recente mutação do capitalismo que, conseguindo manter intacto o poder e os lucros do sistema financeiro, dá um salto de gigante na capacidade de transferir recursos e rendimentos de quem trabalha para quem especula e se apodera da maior parte da riqueza. (...)
O Orçamento de Estado para 2013 e a anunciada reconfiguração assistencialista do Estado social são a imagem do aproveitamento neoliberal daquelas fragilidades para criar uma outra sociedade. Nela são recriados o pior de dois mundos. Num quadro de desemprego e precariedade, a fiscalidade deixa de fazer parte de um contrato que os povos compreendiam. (...)
No novo regime austeritário, pelo contrário, pagam-se cada vez mais impostos em troca de cada vez menos. Desviados do combate às desigualdades, da elevação dos níveis de saúde e educação da população, da garantia da solidariedade inter-geracional e da coesão territorial, os montantes recolhidos com os impostos são cada vez mais canalizados para o pagamento de uma dívida descontrolada e para aquilo a que Pierre Bourdieu chamava a mão direita do Estado (defesa e segurança, justiça, etc.), em detrimento da sua mão esquerda (as suas funções sociais). (...)
A mudança de regime em curso nos países austerizados é suicidária. É um projecto para uma regressão social e uma recessão económica prolongadas, em Portugal e na Europa. Todos os povos serão prejudicados, todos os especuladores e rentistas terão feito excelentes negócios.»
Na íntegra AQUI.
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