Pepetela (71 anos, escritor angolano, Prémio Camões em 1997, licenciado em Sociologia, docente na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, vice-ministro da Educação, após a independência de Angola) publica, no Diário de Noticias de hoje, um texto sobre a crise portuguesa.
Com esperança, com a certeza de que ultrapassaremos a fase difícil em que nos encontramos: «Aqui usamos uma expressão que já tem mais de trinta anos. Quando alguém se queixa, ou a situação está mesmo empírica (entender: complicadíssima), dizemos: deixa para lá, em 1961 estávamos pior e resistimos. Portugal já passou por muitas crises, tremores de terra e invasões, ambições e traições. (...) Também vai sair desta. A receita parece ser sempre a mesma, mas os historiadores que me corrijam se digo asneira: a dado momento o povo se une, cerra os dentes, pára de se queixar, faz força, e o carro avança.»
No entanto, sublinha que, ao visitar duas vezes Portugal este ano, sentiu-se de regresso «aos anos 50, princípios de 60», porque encontrou «o mesmo ar entristecido das pessoas, olhos sem futuro para olhar», «os rostos, ou a vaga falta de fulgor nos rostos».
Mas é logo no início do texto que, com toda a naturalidade, emprega uma expressão que me sacudiu: «vou sabendo do que se passa aí no ultramar». Há marcas tão fundas que quase imprimem carácter, mas é óbvio: para ele, estamos no ultramar...
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1 comments:
Estes «portugueses» sempre conheceram Portugal e os portugueses de uma maneira tal, que se quisermos saber quem somos devemos perguntar em primeiro lugar a esses «grandes portugueses».
Eles serão sempre bons portugueses.
Haverá excepções como em todas as regras, evidentemente.
Em 1961, foi bem pior, dizia-se em Luanda e continuo a dizer hoje, eu, e como retornado vi gente em crise bem pior que esta.
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