23.12.12

«Em defesa» de Gérard Depardieu



Corre tinta sobre a emigração de Gérard Depardiu para a pequena vila de Néchin, na Bélgica, para escapar a uma recente lei do fisco francesa, que taxa a fortuna dos ricos em 75%. Numa carta publicada há uma semana, o actor responde ao primeiro-ministro que lhe tinha chamada «miserável»(«minable», em francês). 

Como bem frisa Luís Menezes Leitão, «se a França tributasse Depardieu a uma taxa na ordem dos 40% ficaria seguramente com 40% dos milhões que ele ganha. Ao subir essa taxa para 75% verá todo esse dinheiro ir para outras paragens».

Mais, e sobretudo: «a ganância nunca foi boa conselheira e a ganância fiscal ainda o é menos» – nós que o digamos... Numa escala (invejosa?) bem diferente da de GD, que atire a primeira pedra quem não gostaria de poder escapar à voragem tributária de Gaspar and friends (masoquistas e fanáticos à parte). Estes governos europeus, desorientados, recusam-se a fazer acertada e eficazmente o trabalho de casa: atiram, atiram, mas acabam por dar muitos tiros na água, nunca acertam no porta-aviões e só afundam submarinos.

Alguns excertos da carta enviada por Depardieu ao primeiro-ministro:

Miserável, disse «miserável»? Como isso é miserável

Nasci em 1948, comecei a trabalhar com a idade de 14 anos como tipógrafo, como operário de manutenção, como artista dramático. Paguei sempre os meus impostos, independentemente das taxas, com todos os governos.

Em nenhum momento, falhei nos meus deveres. Os filmes históricos em que participei mostram o meu amor pela França e pela sua história. (...)

Parto depois de pagar, em 2012, 85% de impostos sobre o que recebi. Mas conservo o espírito desta França que era bela e, espero, assim permanecerá.

Entrego-lhe o meu passaporte e a minha Segurança Social que nunca usei. Não temos já a mesma pátria, sou um verdadeiro europeu, um cidadão do mundo, como o meu pai sempre me ensinou. (...)

Nunca matei ninguém, não me considero indigno, paguei 145 milhões de imposto em 45 anos, tenho 80 pessoas que trabalham em empresas que foram criadas por elas e que são por elas geridas.

Não pretendo que me lamentem ou me elogiem, mas recuso a palavra «miserável».

Quem é você para me julgar assim, pergunto-lhe senhor Ayrault, primeiro-ministro do senhor Hollande, pergunto-lhe, quem é você? Apesar dos meus excessos, do meu apetite e do meu amor pela vida, sou um ser livre e vou permanecer educado.

Gérard Depardieu 
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3 comments:

de.puta.madre disse...

"Quem é você" Kadhafi 2011.

Anónimo disse...

Ora nem mais!
P.Rufino

mjc disse...

Interpreto as aspas do título como uma ironia. Ou não? Quem nem faz idéia do que são 45 milhões de euros ( o meu caso), põe-se a pensar que o que resta ,dá e sobra para se viver à grande e à francesa. Não conheço nenhum caso em que se ganhe tanto dinheiro sem ser à custa da exploração do trabalho dos outros.
É de ir até à Bélgica fazer um workshop com o nosso Cirano.