Petição Pelo aumento do Salário Mínimo Nacional - Uma questão de justiça e de direitos humanos
Para:Assembleia da República; Parceiros Sociais; Governo
Tem estado em discussão, pelos parceiros sociais, no parlamento e no executivo,
a possibilidade de aumentar o salário mínimo. Pensamos que este debate é
importante e reclama de todos e todas um sentido de urgência e de
responsabilidade. Trata-se de uma escolha que é simultaneamente sobre economia,
sobre justiça, sobre direitos humanos e sobre democracia.
Portugal tem o salário mínimo mais baixo da zona euro. Com o aumento do custo
de vida, a manutenção deste valor demasiado baixo gerou um crescimento
exponencial do número de trabalhadores pobres em Portugal. Um em cada dez
trabalhadores vive abaixo do limiar da pobreza. Em 2010, o limiar da pobreza
foi definido nos 434 euros. Hoje, depois dos descontos, os trabalhadores que
auferem o salário mínimo recebem 431,65 euros líquidos, ou seja, ficam abaixo
daquele limiar. Uma situação em que o exercício de uma profissão e o acesso ao
emprego não permite escapar à pobreza não é admissível na Europa do século XXI.
A pobreza ofende e viola a dignidade da pessoa humana e impede o exercício da
liberdade. Num tempo em que se acentuam as desigualdades, o salário mínimo é um
garante basilar de coesão social e de proteção dos trabalhadores, devendo
contrariar estratégias de vulnerabilização salarial e de exploração da força do
trabalho, já facilitadas pelas lógicas da precariedade e do trabalho a tempo
parcial. Num contexto em que a pobreza se acentua e alastra, combate-la é,
antes de mais, reafirmar um compromisso de solidariedade. O aumento do salário
mínimo é por isso, em primeiro lugar, uma questão de direitos humanos.
É, ainda, uma medida economicamente sensata. Um pequeno aumento no ganho de um
trabalhador com menores rendimentos tem impacto direto na economia, visto que
esse aumento de rendimento é utilizado em bens e serviços que criam emprego.
Aumentar o salário mínimo é uma necessidade para a dinamização do mercado
interno devastado pela crise e para a recuperação económica do país.
Por último, o aumento do salário mínimo é uma questão de justiça. Em 2006, o
Governo e as confederações sindicais e patronais acordaram em concertação
social que, em 2011, o salário mínimo chegaria aos 500 euros. Todavia, aos
primeiros sinais da crise, esse acordo foi violado e o salário mínimo ficou
congelado nos 485 euros. Este incumprimento tem sido mantido, num contexto em
que o seu valor está longe do que é preconizado na Carta Social Europeia,
subscrita pelo Estado português, que estabelece que o salário mínimo líquido
deve ser 60% do salário médio. Se essa fosse a referência a cumprir, o salário
mínimo ultrapassaria já os 600 euros.
Aumentar o salário mínimo é uma questão de respeito. Como se dizia em texto do
Concílio Vaticano II, é preciso satisfazer "antes de mais as exigências da
justiça, nem se ofereça como dom da caridade aquilo que já é devido a título de
justiça; suprimam-se as causas dos males, e não apenas os seus efeitos”. O
aumento do salário mínimo é isso mesmo: uma questão elementar de justiça. É uma
exigência do combate à pobreza, para salvaguardar as pessoas que se veem
privadas de exercer a sua plena cidadania e dignidade.
PRIMEIROS SIGNATÁRIOS
Alfredo Bruto da Costa (presidente Comissão Nacional Justiça e Paz), Eduardo Vítor
Rodrigues (sociólogo), Eugénio Fonseca (presidente Cáritas Portuguesa),
Fernanda Rodrigues (assistente social), José António Pinto (assistente social),
José Manuel Pureza (professor universitário), José Reis (economista, diretor
FEUC), José Soeiro (sociólogo), Manuel Carvalho da Silva (sociólogo,
coordenador CES Lisboa), Manuela Silva (economista), Paulo Pedroso (professor
universitário), Pe. Jardim Moreira (presidente Rede Europeia Anti-pobreza),
Sandra Araújo (diretora Rede Europeia Anti-pobreza), Sérgio Aires (sociólogo).
.
1 comments:
finalmente descobriram que há 2 milhões de pobres nos últimos 20 anos
Enviar um comentário