Terá sido certamente com a melhor das intenções que Correia de Campos defendeu ontem que «cada pessoa que vai ao hospital» deveria receber «uma factura com o respetivo custo real dos serviços que lhe foram prestados». Não os pagaria mas ficaria «a saber quanto é que a comunidade, o Estado, gastou». Pretensamente, esta «factura virtual» provocaria «um aumento da responsabilidade cívica dos cidadãos» que frequentam o Serviço Nacional de Saúde.
Eu sei que os espíritos andam confusos e as almas nervosas. Mas não terá ocorrido a este ex-ministro da Saúde que uma ideia destas é, no mínimo, peregrina e insensata?
Alguém que recorre, por exemplo, a um serviço de urgência não está, normalmente, suficientemente fragilizado para que não lhe atirem à cara quanto fica a «dever» ao Estado ou, mais precisamente, aos seus concidadãos? Um doente com uma doença crónica grave que obrigue a meses de internamento receberia, no momento da alta, uma hipotética dívida virtual de dezenas ou centenas de milhares de euros para se sentir responsável pelos seus males? No limite, a família de um morto também seria informada sobre os custos provocados pelo seu parente?
Para além de sermos responsáveis pela dívida do país e pelo BPN, querem que também nos sintamos culpados por não sermos saudáveis? E alguém acredita que é assim que se melhora o civismo dos portugueses? Repito: isto só pode ser dos nervos...
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3 comments:
Cara Joana, se calhar até poderia funcionar ao contrário do que o ministro estaria à espera...
O objectivo de termos um Sistema Nacional de Saúde é precisamente o de evitar que a despesa de um tratamento caia em cima dos desafortunados, pagando nós todos por ele com de um modo muito menos penoso. Esta 'factura virtual' (que nomes!) traria uma mensagem: "já viste como seria se não houvesse SNS? Defende-o com unhas e dentes!".
Mas claro, Correia de Campos deve sentir-se culpado do que ele próprio fez pelo SNS e imagina que todos deveremos sentir o mesmo...
Cumprimentos do
Hugo
Exacto, Hugo, é isso mesmo.
Bem! Nem de propósito este tema. Hoje de manhã fui ao IPO do Porto, fazer o meu controle semestral de um cancro da mama operado em Setº de 2009. Habitualmente, neste controle fazia RX e Ecografia mamária. Hoje, fiz apenas o RX. Perguntei à funcionária se não fazia a Eco. Ela disse que não era preciso. Estava tudo bem. Pedi-lhe desculpa mas devia compreender que com os cortes na saúde estava com receio.
Moral da história: a ecografia que eu fazia antes era dispensável e por isso desperdício?! Tanto quanto sei há coisas que os RXs não detectam, e nestes casos mais vale prevenir... Aguardemos.
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