Mensagem da Associação 25 de Abril
Foi há 39 anos que o Movimento das Forças Armada concretizou o derrube da mais velha ditadura da Europa. A luta de muitos portugueses contra a tirania, a opressão e o obscurantismo, culminou nessa radiosa jornada de 25 de Abril de 1974, que nos lançou na mais extraordinária aventura que um povo pode viver: construir um país novo, recuperar do atraso em que o haviam colocado, fazer um Estado Democrático e de Direito, reconhecer o direito à autodeterminação e independência de povos colonizados, retirar Portugal do isolamento internacional em que os ditadores o mantinham, inserir-se numa Europa onde o Estado Social garantia há mais de trinta anos uma situação de paz, progresso, bem-estar e justiça social.
Foi o tempo de todas as esperanças, convictos de que se caminhava numa estrada com sentido único, ao encontro de uma sociedade verdadeiramente livre e justa.
Hoje, envolvidos numa enorme crise, damo-nos conta de que não há conquistas irreversíveis, de que é sempre possível o regresso dos fantasmas, de que os tiranos estão permanentemente disponíveis para subjugar os povos que se descuidam e não se protegem eficazmente.
Hoje, assistimos e sofremos na pele, ao destroçar de muito do que de bom se conseguiu, ao retrocesso para “tempos da outra senhora”, à destruição do Portugal de Abril e ao abrir de portas a novas escravidões, à iniquidade, à perda de soberania.
Muitos perdem a esperança. Vemos com preocupação o regresso da emigração em massa, com muitos portugueses a procurarem no estrangeiro as condições de sobrevivência que não vislumbram na nossa terra natal.
Mas, porque “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”, estamos a lutar, comas armas que a Democracia conquistada com Abril ainda nos permite, contra os novos tiranos que nos roubam o pão, o trabalho e a soberania!
É uma luta difícil, os inimigos são poderosos, mas a nossa História de quase mil anos e o direito à nossa vida com futuro a isso nos obrigam!
Estamos a lutar contra os que nos trouxeram a esta situação, contra os que se apoderaram do poder e o utilizaram em benefício próprio, contra os que se venderam ao capital financeiro e aceitam ser capatazes do seu próprio povo.
Estamos a lutar contra a corrupção, que foi a principal arma utilizada para provocar esta crise, e exigir a punição dos seus autores.
Estamos a lutar contra o agravamento da crise, que vem aumentando em relação directa com a responsabilidade dos detentores do poder – sejam eles o Presidente da República, os governantes ou os deputados, que se mostram incapazes de encontrar soluções que travem a crise. Mas também, é curial afirmá-lo, as oposições políticas ou sindicais, incapazes de apontar alternativas.
Temos consciência que a crise é generalizada no mundo ocidental, nomeadamente na Europa, mas isso não justifica a profundidade que atingiu em Portugal.
Estamos a lutar contra o marasmo, o conformismo, o amochar que se tem apoderado dos portugueses, perante as contínuas agressões, os roubos de que são vítimas, que os levam a olhar para a destruição do país, sem que se mobilizem e ponham cobro a uma situação que seria impensável há meia dúzia de anos.
Estamos a incentivar as acções da sociedade civil que vem despertando, vem assumindo a contestação e vem dando sinais inequívocos ao poder, que a não serem entendidos, provocarão fortes convulsões sociais, com a violência como pano de fundo.
Nesse sentido e considerando:
- O envolvimento em vários processos fraudulentos, de milhares de milhões de euros, de pessoas com as mais altas responsabilidades em diversos sectores da economia e das finanças da nossa sociedade, muitas vezes oriundos dos aparelhos partidários e tendo desempenhado as mais elevadas funções no Estado português;
- A continuação das enormes arbitrariedades que agentes do poder público continuam a praticar, ao mesmo tempo que se vêm conhecendo novos dados sobre a natureza e a responsabilidade de muitos actos “lesa pátria”, alguns configurando situações criminosas;
- A ausência de acções concretas, no sentido de responsabilizar os autores desses crimes;
A Associação 25 de Abril manifesta a sua indignação, face aos acontecimentos que se estão vivendo em Portugal e que configuram, sem a menor dúvida, um enorme e muito grave descrédito dos representantes políticos, um logro à confiança cidadã e um desprestígio para o nosso país, precisamente em momentos especialmente delicados e que requerem uma grande responsabilidade e compromisso.
A Democracia baseia-se num pacto social, onde os cidadãos elegem os que consideram os mais indicados para gerir os assuntos públicos e para os representar durante um período de tempo previamente acordado.
A Democracia não é, nem pode ser jamais, a concessão a uns quantos de uma patente de pilhagem para se enriquecerem durante quatro anos ou mais!
A Democracia tem o seu fundamento na confiança que os representados têm nos seus representantes ena lealdade destes perante quem os elegeu.
Quando essa confiança é traída e essa lealdade desaparece, o prestígio e a legitimidade moral da classe política desmoronam-se e o cimento da Democracia apodrece.
É o que, na opinião da Associação 25 de Abril, se está passando em Portugal!
E é mais que sabido o que sucede quando, num Estado de Direito, a classe política perde o seu prestígio porque se transforma numa espécie de casta que deixa de servir os interesses de todos para servir apenas os seus próprios interesses.
Basta analisar a história do século XX para se concluir que essa foi sempre a antecâmara do totalitarismo.
Nesse sentido:
- A Associação 25 de Abril reclama uma justiça firme, eficaz e rápida;
- A Associação 25 de Abril reclama junto dos partidos políticos, a todos sem excepção, que façam tudo o que estiver ao seu alcance para denunciar e expulsar das suas organizações todos quantos hajam tomado parte em práticas corruptas. A todos e a todas, sejam quem forem.
Sendo os partidos políticos elementos essenciais ao funcionamento democrático, só com a sua elevação ética e regeneração poderá a classe política recuperar o prestígio perdido e a sua representatividade moral.
Sem isso, a democracia, tal como a entendemos, será uma mera ficção!
Por isso, se não forem os partidos políticos a alterarem este estado de coisas, terão de ser os portugueses a alterar os partidos políticos.
Para isso, os partidos políticos têm de ser capazes de ultrapassar os interesses próprios, de “capelinha”, e privilegiar os interesses colectivos. Só assim serão responsáveis, só assim serão patriotas!
A Associação 25de Abril exorta os meios de comunicação social a que, nestes tempos tão graves, sirvam, acima de tudo, os interesses dos cidadãos! Informem com verdade, objectividade e exaustivamente, sem negar ou ocultar a realidade nem manipular os factos.
Só da difusão e do conhecimento da verdade pode surgir a regeneração ética, de que a nossa nação necessita mais do que nunca!
A Associação 25de Abril manifesta, por último, a sua esperança e a sua confiança, assim como a sua total lealdade, no sistema democrático e no Estado de Direito a que o 25 de Abril deu origem em Portugal, plasmados na Constituição da República.
Reclamamos pelas medidas necessárias ao impedimento da proliferação dos que se aproveitam do sistema para o seu próprio lucro e benefício, mas reclamamos também que essa exigência se faça rejeitando tutelas e “salvadores da pátria”.
Continuamos pensando que o sistema de liberdades e o pacto democrático entre os cidadãos é o melhor dos sistemas de governação.
Não desistimos, numa luta que não é só nossa. Nós e os outros povos europeus temos de ser capazes de perceber que os inimigos não são os outros povos, mas sim o capital financeiro que nos domina a todos e os que, em cada um dos países, a ele se venderam. A nossa luta é contra os tiranos e não de uns povos contra outros povos.
A Associação 25 de Abril exorta a uma democracia com ética e justiça!
Vamos vencer o medo, reafirmar Abril, construir o futuro!
A Direcção
Lisboa, Abril de 2013
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Alem disso, ler também:
Associação 25 de Abril não aceita convite para se fazer representar na sessão solene da Assembleia da República , comemorativa do 39.º aniversário do 25 de Abril.
COMUNICADO
Em 2012, a Associação 25 de Abril decidiu não aceitar o convite para se fazer representar na sessão solene da Assembleia da República, comemorativa do 38.º aniversário do 25 de Abril.
Tivemos, então, oportunidade de justificar, no comunicado “Abril não desarma”, as razões que nos levaram a essa decisão.
Porque consideramos que essas razões não desapareceram, pelo contrário, terão sido agravadas na generalidade e acrescidas de outras, decidiu a Direcção da Associação 25 de Abril renovar a não aceitação do convite da Presidente da Assembleia da República, para assistir à sessão solene comemorativa do 39.º aniversário do 25 de Abril.
Não relembrando as razões específicas que nos levam a esta decisão, reafirmamos contudo que continuamos a considerar que:
- A linha política seguida pelo actual poder político deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril configurado na Constituição da República Portuguesa;
- O poder político que actualmente governa Portugal, configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores;
Porque continuamos a acreditar na democracia, porque continuamos a considerar que os problemas da democracia se resolvem com mais democracia, esclarecemos que a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas, não pretendendo confundi-las com os que são seus titulares e exercem o poder.
Por isso reafirmamos, no momento difícil que Portugal continua a atravessar:
- A nossa convicção quanto à vitória futura, mesmo que sofrida, dos valores de Abril no quadro de uma alternativa política, económica, social e cultural que corresponda aos anseios profundos do Povo português e à consolidação e perenidade da Pátria portuguesa.
- O nosso apelo ao povo português e a todas as suas expressões organizadas para que se mobilizem e ajam, em unidade patriótica, para salvar Portugal, a liberdade, a democracia.
Lisboa, 19 de Abril de 2013
A Direcção
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