Começou a circular na net, é um documento longo (36 páginas, em pdf), com um vasto conjunto de muitas «notas dissonantes», que não será publicado em nenhum jornal de referência... Merece certamente ser lido, «sublinhado» e «meditado» e é de esperar que provoque alguma polémica – mau sinal será se tal não acontecer. (Eu já li, já sublinhei e tenho muita matéria para meditação.)
Fica aqui a Introdução:
Para contar uma história
Este texto foi escrito por vários pares de mãos ao longo dos últimos meses, num processo continuamente minado por eventos que insistiam em torná-lo incompleto sempre que parecia quase concluído. Muitas vezes discordámos sobre praticamente tudo: não apenas o que tinha acontecido e quando, ou quantas pessoas tinham estado onde, mas também quanto às questões de fundo que atravessam o período que este texto pretende narrar. O discurso aqui proposto é incompleto, parcial, questionável e eventualmente duvidoso. Ante as inúmeras experiências pessoais e colectivas seria ridículo sugerir que estas dezenas de páginas fazem mais do que reunir as notas, ideias, desejos e projecções de uma mão cheia de pessoas, limitadas pelos contextos pessoais e políticos onde estiveram inseridas. A intensificação dos processos emancipatórios em curso foi, talvez como nunca antes na história, acompanhada por uma
gigantesca multiplicação de instâncias onde se comenta e discute tudo até à exaustão. Pensamos que esta nossa contribuição seria útil a esse debate e ao enriquecimento desse espaço de diálogo, nem sempre pacífico ou fácil. É nesse espírito que o divulgamos.
Estas linhas procurarão traçar uma breve narrativa do movimento. Paradoxalmente, começam por limitá-lo impondo-lhe um nome tão carregado - “movimento” - com ressonâncias que vão dos utentes da Via do Infante aos activistas católicos pró-vida. É por isso que decidimos percorrer o terreno minado do imaginário activista e militante, resgatando o significado que mais nos interessa: algo que se move em permanência e carrega em si a hipótese de um devir colectivo emancipatório. Começamos, obviamente, por dizer o que o movimento não é. O movimento não é a estratégia inter e meta eleitoral de um partido político, ou seja, não é a tentativa de criação de discursos de contestação que posteriormente se traduzam num redimensionamento das forças no parlamento e noutros locais de representação. Não é, também, o compêndio das actividades políticas, sociais e/ou criativas que procuram complementar as insuficiências do poder político ou com ele criar um híbrido, numa estratégia de revigoramento da “democracia”, da sociedade civil ou das elites desenvolvimentistas. Não é, ainda, o conjunto das organizações, instituições ou individualidades alegadamente radicais, cada uma isolada no seu nicho de mercado e na sua auto-referencialidade autista, habitando confortavelmente mundos criados apenas para consumo próprio. Não é a defesa de uma normalidade ameaçada, não é a participação cidadã, não é o «bichinho da política» e muito menos o parlamento dos pequeninos.
Aquilo a que aqui chamamos movimento não é mais do que o conjunto das relações que transportam em si o desejo de autonomia e as condições para a sua materialização. É uma cumplicidade, às vezes estratégica outras vezes emocional, que adquire a sua corporalidadetanto na rua como nos espaços conquistados ao poder. Transcende as identidades e as filiações, passando mais pelos vectores e fluxos do que pelas formas e estados. De um modo mais simples, o movimento é mais uma série de cumplicidades e partilhas do que a nomeação
individual ou organizacional das pessoas que o atravessam.
Para contar uma história é necessário fixar um ponto qualquer na linha do tempo, que sirva de início, de fim, ou de centro de massa. É necessário também definir um planalto, a região por onde passa o tempo e se movem as personagens. Para contar esta história que se assemelha estranhamente à história da luta de classes, à história da humanidade, fixar um ponto torna-se tarefa vertiginosa. Começar onde?
Se excluirmos à partida a Revolução Francesa e a Comuna de Paris, a tomada do palácio de Inverno e o levantamento de Kronstaadt, a Guerra civil espanhola e o Maio de 68, o PREC e o cavaquismo, é o nosso tempo que se apresenta, feroz e irredutível, para que dele nos ocupemos. Não faltam aí pontas soltas por onde pegar, problemas e questões e polémicas e debates e escolhas e divergências que são, afinal, a própria matéria de que se fazem as nossas vidas e que, com pezinhos de lã, vieram finalmente contaminar a Política com maiúsculas, subtraindo-a aos ecrãs televisivos para a precipitar nas ruas e praças das nossas cidades. Certas coisas que eram inimagináveis há alguns anos são agora banais, certas ideias disseminaram-se, certas possibilidades alargaram-se, certas posições extremaram-se e tudo se tornou mais complicado.Julgámos por isso oportuno escrever este texto, que não é nem mais nem menos radical do que os tempos que correm. Por onde começar então? A 24 de Novembro de 2010 ocorreu em Portugal uma greve geral convocada pela CGTP e pela UGT, envolvendo cerca de 3 milhões detrabalhadores. Quatro dias antes a NATO realizou em Lisboa a sua cimeira mundial. É por aqui que vamos começar.
Na íntegra AQUI.
.
Na íntegra AQUI.
.
0 comments:
Enviar um comentário