«A crise tende a multiplicar os impasses, os impasses tendem a aprofundar a crise. Assim se adensa, tanto na vida das pessoas como na das nações, o carrossel de todos os dramas. E o pior que nestas situações pode acontecer é ficar-se preso na teia do que Gregory Batteson designou uma vez como o "double bind".
Trata-se de um dilema que coloca uma pessoa ou uma comunidade perante mensagens ou exigências conflituantes, de tal modo que bloqueia qualquer saída, dando origem a comportamentos paradoxais. (...)
Só faltava mesmo a cereja no bolo: e ela apareceu com a insólita aposta [feita por Cavaco Silva] de fazer o País caminhar para o consenso através da intensificação dos antagonismos e em apelar à convergência político-partidária estimulando a desconfiança na democracia!
Este passo é, todos o reconheceram, dificilmente compatível com as funções de representação nacional, de mediação institucional e de pedagogia política que deveria caracterizar o exercício presidencial. Não admira por isso que, com esta espiral paradoxística de Cavaco Silva, o País dê crescentes sinais de um novo tipo de fadiga, a fadiga presidencial... (...)
Cavaco Silva não só falhou o alvo do seu apelo ao consenso, como perdeu o "momentum" em que o podia fazer com autoridade e eficácia. Resta-lhe agora, aos olhos dos portugueses, vacilar – para usar os termos do filósofo Jean-François Lyotard – entre o litígio e o diferendo: enquanto o primeiro pode ficar pela discordância mais ou menos acentuada, já o segundo conduz ao conflito e à guerra. O tempo o dirá.»
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1 comments:
um pormenor: "Gregory Bateson designou uma vez como o "double bind"" é um disparate muito grande (além do disparate de aplicar o conceito a fenómenos sociais com esta ligeireza). O conceito foi definido e discutido por Bateson, não foi propriamente uma coisa que disse de passagem....
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