7.5.13

Portas, o verdadeiro artista?



«Paulo Portas sabe que nunca ganhará eleições em Portugal. A direita verdadeira precisa que passem várias gerações para ganhar eleições em Portugal. Precisava que o 25 de Abril se desvanecesse geracionalmente, agora precisa que esta intervenção liberal da troika o acompanhe no tempo.

Mas Portas acredita que, bem manobrado, o seu pequeno bote pode chegar longe. Pode sair desta crise como o verdadeiro líder salvador do país, com ideias próprias, muito trabalho e muita campanha. A elite já percebeu isso, Portas já conquistou apoios e cumplicidades entre algumas das personalidades mais influentes da vida política, económica e empresarial do país. (...)

Paulo Portas sobreviveu a uma passagem difícil pelo poder. E já está a trabalhar para sobreviver a outra, desta vez desastrosa. A tarefa agora é bem mais complicada. Demitir-se seria afundar tudo e todos. Demarcar-se, chegar-se à proa do navio que ainda está à tona, é a única via. Porque o seu pequeno bote, bem manobrado, pode ser a diferença entre escapar ferido mas mais vivo politicamente que nunca, ou afundar-se no naufrágio em que se transformou este país desgovernado. E pouco importa ganhar eleições depois, se todos os sobreviventes estiverem agarrados a frágeis tábuas de salvação enquanto por eles passa um bote pequeno, mas bem manobrado.»

Pedro Ferreira Esteves

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«Passos Coelho e Vítor Gaspar, à vez, parecem-se cada vez mais com o mítico Sísifo: estão condenados pelos deuses da Europa a empurrar eternamente até ao cume de uma montanha uma roda de mármore que acaba sempre por voltar a cair no vale.

Sempre cada vez mais longe do cume e mais perto do verdadeiro pântano. É aqui que o núcleo duro do Governo não necessita de oposição: vai-se derrotando a si próprio. Paulo Portas, no domingo, só ajudou a empurrar mais um bocadinho a roda para baixo. (...)

Passos Coelho continua a olhar para trás. Portas olha para a frente. E estabeleceu uma linha, a partir da qual deixa de ser solidário: o dia em que a troika sair daqui, em 2014. Criticou a Europa e o FMI, explicou as medidas e estabeleceu a fronteira para a austeridade sobre os reformados.

Portas mostrou que já há dois Governos: um, dele com o CDS e algum PSD; o outro com Vítor Gaspar e ainda com Passos Coelho. A curto prazo o primeiro-ministro terá de decidir se continua a ser o ajudante de Sísifo. Falta um ano para o grande eclipse se nada mudar. Portas fez o aviso.»

Fernando Sobral

(Os links podem só funcionar mais tarde.)
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