Se 2 de Maio marca o início do mítico movimento francês de 1968, com a chegada ao Quartier Latin da crise estudantil que tivera a sua origem mais próxima na ocupação da Universidade de Nanterre, em 22 de Março, foi no dia seguinte, 3 de Maio, que tudo tomou maiores proporções. O desenrolar dos acontecimentos foi absolutamente alucinante, começando por uma reunião de solidariedade com Nanterre, passando por ameaças de confrontos entre grupos rivais de estudantes e culminando, ao princípio da tarde, com um pedido do reitor à polícia para que evacuasse a Sorbone. Seguiram-se cinco horas de verdadeira batalha campal, com barricadas, cocktails Molotov, pedradas, matracas e gases lacrimogéneos, que se saldaram por dezenas de feridos e mais de 500 prisões. Os distúrbios continuaram nos dias que se seguiram.
Como é sabido, o movimento não se manteve fechado no mundo dos estudantes: extravasou para o do trabalho, a nível de operários, de camponeses e do sector terciário, reuniu-se numa gigantesca manifestação em 13 de Maio e esteve na origem de uma longa greve geral incontrolada.
O que houve de absolutamente específico, e de certo modo inesperado, foi que não estiveram em questão apenas motivações sociais ou laborais, mas também exigências de alterações profundas a nível do relacionamento humano e dos costumes. Recorde-se que uma das causas para a ocupação de Nanterre foi a revindicação de os rapazes passassem a ter acesso às residências universitárias femininas...
Recordaremos sempre a apologia da subversão e da transgressão, «é proibido proibir», «a imaginação ao poder» – a grande utopia.
Foram-se acalmando as hostes, foi dissolvida a Assembleia Nacional em 30 de Maio e realizaram-se eleições legislativas (que os gaulistas ganharam por larga maioria) no mês de Junho. Mas nada ficaria na mesma.
A recordar:
A célebre intervenção de Daniel Cohn-Bendit no pátio da Sorbonne e a evacuação pela polícia:
Algumas canções da época, pela emblemática Dominique Grange:
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2 comments:
" La volonté de puissance est le lion, mais l´enfant n´est-il pas volonté de chance?(...) Nietzsche exprima par l´idée d´enfant le principe du jeu ouvert,où l´échéance excède le donné. Pourquoi, disait Zarathoustra, faut-il que le lion devienne l´enfant? L´enfant est innocence et oubli, un nouveau commencement et un jeu, une roue qui roule sur elle-même, un premier mouvement, un " oui " sacré ". Georges Bataille, Sur Nietzsche
Caríssima: Evocação corajosa e admirável! Maio 68, o desejo-de-revolução!, não se pode esquecer jamais! Salut! Niet
Há uns textos muito profundos e exaustivos no último número da revista de Guy Debord & Cia, o 12° da Internationale Situationniste, publicado em Setembro de 1969, sobre o Maio pariseense do ano anterior,narrativa minúciosa e escalpelizante da primeira greve selvagem num país,a França, a quarta ou quinta potência mundial... Justamente,o Movimento de Cohn-Bendit, o 22 de Março, é ultrapassado pelo núcleo de Enragés e Conselhistas,que mais tarde se aliaram à I. Situationniste,para o fomento e perspectiva do movimento das Ocupações, Universidades e Fábricas como palcos essenciais de luta.Se a noite de 3 Maio foi histórica pela luta nas barricadas em volta da Sorbonne,as dissensões instigadas pelos reformistas e estalinistas- primeiro no terreno estudantil, mais tarde nas fábricas-acabou pela tentativa fracassada do lançamento dos Conselhos Operários por todo o território, a 16 de Maio. E fracassou porque era plausivel... pela ajuda dos diversos grupusculos leninistas( maoistas e trotskistas, onde surgiram Geismar e Krivine como " rivais " mediáticos de Cohn-Bendit...)) ao PCF e à CGT. Portanto,esta escassa semana e meia de grandes movimentações de massa revelou seis décadas depois de Outubro de 1917 que o proletariado só se consegue libertar colocando em movimento a sua autonomia contra a manipulação burocrática e o culto dos " chefes "...Este apontamento surgiu-me para " separar as águas " dos falsos profetas e aprendizes de feiticeiro que nunca compreenderam Maio 68. Salut!Niet
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