O «Documento dos Nove» (também conhecido como Documento Melo Antunes) é imediatamente associado a 1975 mas há muito quem o relacione com o 25 de Novembro e julgue portanto que foi publicado perto dessa data – os anos vão passando e as memórias tendem a amalgamar-se... Não é o caso: foi divulgado, no Jornal Novo, em 7 de Agosto de 1975, exactamente há 38 anos.
«Os Nove» eram Melo Antunes, Vasco Lourenço, Sousa e Castro, Vítor Alves, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves e Vítor Crespo, mas o manifesto foi ainda assinado por Ramalho Eanes, Garcia dos Santos, Costa Brás, Salgueiro Maia, Rocha Vieira, Fisher Lopes Pires e outros membros das Forças Armadas.
Em pleno Verão quentíssimo, na véspera da tomada de posse do célebre V Governo Provisório (o último a ser presidido por Vasco Gonçalves), os signatários quiseram posicionar-se em contraponto às teses políticas do documento «Aliança Povo/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal», apresentado um mês antes (em 8 de Julho) e passaram a representar publicamente a facção moderada do MFA, recusando «tanto o modelo socialista da Europa de Leste como o modelo social-democrata da Europa Ocidental, defendendo um projecto socialista alternativo baseado numa democracia política, pluralista, nas liberdades, direitos e garantias fundamentais».
Vale e pena ler ou reler este Documento dos Nove, sabendo o que sabemos hoje e estando onde estamos. É um exercício que aconselho a quem se interessa por esse ano crucial e absolutamente decisivo da nossa História relativamente recente, por aquilo em que ele a condicionou e condiciona ainda. Discuti-lo deste ponto de vista daria pano para mangas (para muitas mangas...), mas nem tento. Não resisto, no entanto, a transcrever um parágrafo que resume, de certo modo, aquilo que Os Nove defendiam e prometiam:
«Lutam por um projecto político de esquerda, onde a construção duma sociedade socialista – isto é, uma sociedade sem classes, onde tenha sido posto fim à exploração do homem pelo homem – se realize aos ritmos adequados à realidade social concreta portuguesa, por forma a que a transição se realize gradualmente, sem convulsões e pacificamente.»
Tenham um resto de Agosto tão feliz quanto possível – em 2013.
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2 comments:
É "interessante" verificar que, dantes, Ramalho Eanes e Rocha Vieira apostavam na construção do socialismo e numa sociedade sem classes e que se distanciavam da social democracia existente nos países da Europa...
Naquela fase, Jorge, ninguém ousava, ainda, não ser pelo socialimo e pela sociedade sem classes. Nem o Soares!!!
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