Aconselho vivamente a leitura de dois textos de Paulo Moura, incluídos no Público de hoje, sem link para o jornal mas que alguém pôs online na íntegra: «Os call centers vão salvar a economia portuguesa?» e «Se não estás satisfeito, a porta de saída é ali».
Em resumo, explica-se como competências em línguas estrangeiras, boa infra-estrutura tecnológica, salários baixos, desempregados em desespero e boa localização geográfica tornaram Portugal mais atractivo do que a Índia ou o Norte de África para a instalação de mega call centers, uma «oportunidade extraordinária» que pode «salvar a economia portuguesa».
Vale muito a pena ler as descrições sobre as condições de trabalho e de despedimento, para portugueses e não só, em empresas com vários milhares de trabalhadores (4.000 no caso da que é descrita com mais detalhe, 24 línguas de trabalho, todas de falantes nativos).
Já está, mais depressa do que alguma vez pensámos: somos concorrentes dos indianos em trabalho bom e barato. Algo que agrada certamente aos nossos governantes porque fica demonstrado que acertaram (finalmente!) num objectvo: empobrecer a população portuguesa.
Por enquanto em terra, enquanto não se tornar mais vantajoso embarcar toda esta gente numa espécie de cruzeiro fantasma. Passo a explicar. Há cerca de oito anos, foi notícia e causou sensação a existência de um projecto concretizado num navio ancorado a algumas milhas da costa da Califórnia, com 600 programadores indianos que, durante meses sem ir a terra, e muito menos a casa, produziam software para empresas americanas, em regime de outsourcing, em troca de salários baixíssimos. Estando em águas internacionais, esses indianos estavam dispensados de autorização de emigração e de trabalho segundo as leis dos Estados Unidos e, simultaneamente, a sua localização facilitava a rápida e frequente deslocação ao navio de chefes e supervisores americanos. As polémicas não se fizeram esperar e não sei se o projecto teve ou não grande sucesso, mas, aparentemente, continua.
Foi nisso que pensei imediatamente quando li a reportagem de Paulo Moura no Público: quem sabe se, mais cedo ou mais tarde, não embarcam estes milhares de portugueses e não só numa espécie de mega «Call Centers Cruise», ancorado para lá das Berlengas ou onde for necessário, para se livrarem das enfadonhas leis de trabalho que ainda vigoram em Portugal, por mais aligeiradas que estas já sejam e ainda venham a tornar-se em breve. Impossível? Ora! Quais porcos a andar de bicicleta...
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