Vejo por aí que amanhã se votará pela 11ª vez em eleições autárquicas, mas confesso que recordo sobretudo as duas primeiras: 1976 pela novidade e porque foi a única em que me candidatei ao que quer que seja (pelos GDUP, à CML, com enorme probabilidade de ser eleita, como se imagina...) e a seguinte, em 1979, por uma historieta que passo a contar.
Por razões profissionais, estive durante alguns anos ligada ao processamento dos resultados eleitorais, então efectuado no Centro de Informática do Ministério da Justiça. Viviam-se semanas épicas na preparação de todos os processos, noites ainda mais épicas quando a data chegava e já disse em tempos como é quase surreal recordar hoje a dificuldade, o pioneirismo e o stress com que tudo se passava.
O apuramento era especialmente longo no caso das eleições autárquicas pelo número de candidatos e lugares envolvidos e, em 1979, estive mais de 24 horas sem abandonar o meu posto. Muitas horas depois do fecho das urnas ainda faltavam os dados de quatro freguesias e, às 16:00 do dia seguinte, nada se conseguia saber de uma delas, localizada bem a Norte do país, salvo erro em Trás-os-Montes. Primeiro faxes, depois telefonemas para o respectivo Governo Civil... tudo inútil, ninguém encontrava o rasto do presidente da única mesa onde se tinha votado. Até que, bem mais tarde, o inesperado aconteceu: o homem acabou por chegar, em pessoa, ao Ministério da Justiça em Lisboa. Tinham-lhe dito que era ali que os dados eram processados e ele pôs-se a caminho. Trazia a urna ainda fechada e tinha deixado à porta… o cavalo que o transportara desde casa!
Oiço agora um ministro a prever, para amanhã, prováveis erros e atrasos no conhecimento dos resultados por causa das alterações ao mapa eleitoral! Com os meios tecnológicos hoje existentes? Ora... Julgo que ninguém vai ter de esperar por votos transportados a cavalo.
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