4.10.13

O teólogo que quer suicidar-se



Está a correr mundo um anúncio feito pelo teólogo Hans Küng: planeia recorrer ao suicídio assistido para pôr fim a uma longa vida de 85 anos, agora altamente degradada por efeitos galopantes da doença de Parkinson.

«O ser humano tem o direito de morrer quando já não tem nenhuma esperança de continuar aquilo que, no seu entender, é uma existência humana», «não quero viver como uma sombra de mim mesmo», escreve no terceiro e último volume das duas memórias, que será posto à venda esta semana.

Não se fizeram esperar algumas reacções, ainda atónitas, de certos meios católicos, onde se reza para que desista das suas intenções, e reina alguma curiosidade sobre qual poderá ser um eventual comentário do papa Francisco, em tema tão sensível para a ortodoxia vaticana!

É que Hans Küng não é um teólogo qualquer, mas sim um dos principais cérebros do Concílio Vaticano II, primeiro compagon de route de Joseph Ratzinger (eram os dois teólogos mais jovens do Concílio), seu feroz oponente enquanto este foi papa, tendo concretizado publicamente essa oposição num célebre texto publicado em 2010: «Carta aberta aos bispos católicos de todo o mundo»

Mas vinham de muito longe os problemas com a hierarquia romana, desde que, no fim dos anos 60, pôs em causa a infalibilidade do papa. Foi mais tarde proibido de ensinar Teologia em instituições da Igreja, etc., etc. – enfim, décadas turbulentas, mas que se saldaram por uma aproximação pessoal com Bento XVI em 2005 e em várias declarações recentes de esperança quanto ao pontificado de Francisco.

Fait divers ou nem tanto assim: andou por Portugal em 1967, onde fez duas conferências, uma em Lisboa e outra no Porto sobre «A liberdade dentro da Igreja». Tão «revolucionária» era a sua fama e tão «revolucionárias» as esperanças que sobravam do Concílio, encerrado dois anos antes, que os eventos em questão até meteram PIDE e identificação de matrículas de carros, entre as quais o de Mário Soares... (Escrevi em tempos algo sobre este assunto, que os mais interessados poderão ler aqui.)

Um caso a seguir. 
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