11.11.13

Europa, esse velho continente acolhedor



O acolhimento dos que fogem de ditaduras – de tiranos ou da fome – foi uma atitude louvável, e devidamente apreciada, ao longo de muitas décadas. As Américas receberam europeus perseguidos pelos nazis, a Europa africanos fugitivos das lutas de libertação das colónias e emigrantes dos países mais pobres, europeus incluídos, e assim por diante.

Hoje, tudo mudou. Em nome de crises económicas e de temores de terrorismo, os «heróis» do passado passaram a inimigos e são rechaçados, sob o olhar indiferente ou aprovador dos povos, que os deixam morrer, ou com um vago tremor humanitário inconsequente.

No último número de Le Monde Diplomatique (edição portuguesa), Serge Halimi comenta bem essa realidade, a propósito dos recentes acontecimentos em Lampedusa.

«Há trinta anos, fugir do sistema político opressivo do seu país valia aos candidatos ao exílio os elogios dos países ricos e da imprensa. Nessa altura considerava-se que os refugiados haviam "escolhido a liberdade", isto é, o Ocidente. Assim, um museu em Berlim honra a memória dos cento e trinta e seis fugitivos que pereceram entre 1961 e 1989, quando tentavam transpor o muro que dividia a cidade em dois.
As centenas de milhares de sírios, somalis e eritreus que, neste momento, "escolhem a liberdade" não são acolhidos com o mesmo fervor. (...) O Muro de Berlim destes boat people foi o mar; a Sicília foi o seu cemitério. A nacionalidade italiana foi-lhes concedida a título póstumo. (...)
O Ocidente valia-se, há trinta anos, da sua prosperidade e das suas liberdades como de uma lança ideológica contra os sistemas que combatia. (...)
Um dia, o Velho Continente vai voltar a fazer apelo a jovens imigrantes para travar o seu declínio demográfico. Nessa altura os discursos vão inverter-se, os muros vão cair, os mares vão abrir-se…»
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