21.1.14

A irmã Lúcia ao Panteão!



Texto recebido por mail:

Agora que se fala da possível (mais que certa!) transladação do Eusébio para o Panteão Nacional, onde repousam os heróis nacionais, seria de elementar justiça proceder de igual modo para com os restos mortais da irmã Lúcia. Com efeito, a irmã Lúcia levou o nome de Portugal tão longe ou mesmo mais do que Eusébio tendo premonizado…atenção! a queda da União Soviética e do comunismo, o que de facto se cumpriu (o PCP não caiu mas é, objectivamente, um aliado da direita – veja-se a moderação com que, sob a sua batuta, são contestadas as medidas impopulares do Governo e os louvores que recebe, em troca, dos bem pensantes da direita). Estou certo de que Fátima mobiliza e mobilizará muito mais cidadãos do Mundo do que a estátua do Ronaldo…desculpem, do Eusébio, com ou mesmo, sem cascóis.

Há uma outra razão que reforça esta proposta: completar-se-iam, no Panteão Nacional, os representantes dos três Fs em que o fascismo se apoiou: Fátima, Futebol e Fado.

Fátima é hoje venerada por milhões de crentes de todo o Mundo e tem uma vantagem acrescida relativamente ao Eusébio: não induz em erro pois nenhum ignorante terá a peregrina ideia de localizar Portugal entre os países africanos. Portanto, na qualidade de embaixadora, Lúcia cumpre, de longe, com mais rigor a sua função.

É certo que Eusébio é “Património nacional” decretado por Salazar, ao contrário da irmã Lúcia. Et pour cause! Ele cumpriu uma função importantíssima caucionando o conceito propagado internacionalmente pelo Estado Novo, de que Portugal era um “Estado multicontinental e multirracial”. Eusébio, que o povo idolatrava, era o “preto” de serviço, ao serviço dos interesses do fascismo. Nunca se preocuparam em ensinar-lhe o quer que seja nem remunerar condignamente a sua mestria natural desenvolvida nos subúrbios pobres de Lourenço Marques; e quando quis ir para Itália, barram-lhe a fronteira.

Na mesma época, Baptista Pereira atravessou os 34 km do Canal da Mancha, a nado, batendo o recorde mundial e levando o nome de Portugal para as manchetes dos jornais, em todo o Mundo. Mas esse era…comunista, e rapidamente o puseram em repouso em Caxias-sur-mer. Deste não reza a história mas quem estiver interessado em o conhecer, leia o romance de Soeiro Pereira Gomes, Esteiros, onde o “Gineto” já revelava grandes qualidades de nadador.

Amália Rodrigues, cujo colo me ajudou a suportar, enquanto criança, umas quantas noitadas na Lisboa de então (o acesso não era ainda condicionado pela idade!) foi igualmente aproveitada pelo poder político para narcotizar o povo na cultura do fatalismo e da desgraça. Terá aproveitado as mordomias de que foi objecto mas duvido que se tenha deixado impregnar ideologicamente. A esquerda de então (cuja semelhança com a esquerda actual é pura coincidência) apelidou, e bem, o fado de “ópio do povo”, adjectivo que se aplicava com igual propriedade á religião paroquial e ao futebol.

O fascismo utilizou habilmente os elementos mobilizadores dos sentimentos populares mais simples, que lhe estavam à mão, para narcotizar as potenciais reacções à sua política: o futebol, o fado e a aparição de Fátima. Muito pouco mudou de então para cá. Vimos os dirigentes políticos nacionais, da direita à esquerda, carpir, associando-se à idolatria de um homem simples e simpático, indubitavelmente talentoso, mas alheio, creio, às maquinações de que foi alvo.

Mas eu volto à irmã Lúcia. Dos três “heróis” nacionais foi quem premonizou, em Portugal, o “trambolhão” político e ideológico com maiores repercussões mundiais, que maior número de pessoas mobiliza anualmente e que inspira uma das actividades empresariais mais lucrativas… e patrióticas pois creio que, para efeitos fiscais, ainda não estará sediada na Holanda.

Por todas estas razões, apoio a transladação dos restos mortais da irmã Maria Lúcia, falecida em 2005, para o Panteão Nacional, convicto de que, tratando-se de uma pequena urna de ossadas, não pesará demasiado no orçamento da Assembleia da República.

Jorge Araujo
Prof. Emérito da Universidade de Évora
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2 comments:

Tripalio disse...

Gosto de ver a teoria da "moderação" do PCP neste senhor. De facto aos radicais já não os vejo, já devem ter emigrado ou estão se a colar ao PS. Os muito radicais façam o seu caminho e deixem de chatear o PCP...

septuagenário disse...

Todas as figuras do Estado Novo mereciam um panteão próprio.

O Estado Novo, só foi o que foi pela exposição e projecção que teve atravez de figuras como Eusébio e Amália até Álvaro Cunhal e Galvão.

E quando um capitão do exército como Salgueiro Maia que viveu a guerra da Guiné é indicado por Manuel Alegre porque prendeu Marcelo Caetano, toda a gente que se juntou no Largo do Carmo a Salgueiro Maia,também devia ir para o Panteão.

E todos os os oficiais que desertaram ou propagandearam a luta anti-salazarista como ele Alegre, também deviam ter um lugar nesse panteão.

Até Marcelo Caetano, juntamente com os Generais que o aguentaram de 1968 até 1974 (Spínola e Costa Gomes) deviam ter um lugar nesse panteão.

Faça-se um grande Panteão do Estado Novo, sem Salazar, porque afinal este parece ser a figura mais apagada de toda aquela época.