4.1.14

O rosto da Europa



«Olli Rehn é o rosto da Europa a que estamos presos como se fosse um colete-de-forças. Um burocrata que lembra um dos personagens cinzentos de "O Processo" de Franz Kafka. Ele olha para Portugal, como o tribunal olhava para Joseph K. (...)

Há uma frase que mostra que os líderes europeus deixaram de ser estadistas com um sonho; são meros contabilistas. Diz o senhor: "O sucesso ou o fracasso da estratégia para repor a sustentabilidade da divida publica será aferido pelo acesso de Portugal aos mercados de divida soberana a taxas de juro comportáveis". Ou seja, o sucesso de Portugal não será medido pelo clube a que pertence, mas sim aos "mercados", essa entidade invisível, líquida e não identificável. Não é a Europa, que sabemos quem é (Durão Barroso, Rehn, Merkel, Draghi) que aferirá do nosso sucesso ou insucesso. Eles apenas aplicam os modelos. (...)

O que apavora no meio do "buraco negro" que é o pensamento político de Olli Rehn, é o futuro de Portugal e dos portugueses. Nestes anos o Governo passou da fase de "farei o que for necessário, incluindo o que dizia que não ia fazer", à da "faço o que me obrigam a fazer, mesmo que não me goste". Como se tudo fosse uma fatalidade, à espera de uma nova folga eleitoral. (...) Enquanto Olli Rehn vai funcionando como actor de uma comédia sem piada, o país percebe que todo o esforço que se tem feito vai apenas servir para solidificar novos interesses e cumplicidades e criar um modelo económico com base nas exportações onde os salários baixos são a nossa mais-valia.»

Fernando Sobral, no Negócios de ontem. 
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