No Público de hoje, mais um importante texto de José Pacheco Pereira:
«A formação do actual discurso governamental sobre os “jovens” e os “velhos” vem de bastante atrás. Veio das “jotas” nos anos oitenta e noventa do século passado e chamava-se “discurso geracional”. Tratava-se de um discurso reivindicativo de mais lugares, mais funções, mais poderes, e funcionava como legitimação política para assegurar a autonomia das juventudes partidárias e dar-lhes um espírito de corpo. (...)
Foi esta a escola de Passos Coelho e Miguel Relvas, mas também de Seguro e de muita da sua equipa. Todos usaram, nas juventudes que dirigiam, esse discurso “geracional” como instrumento de reivindicação política e de ascensão pessoal e de grupo. (...)
Embora sejam hoje homens de meia-idade, já velhos para o mercado de trabalho se quisessem entrar nele, estes antigos “jotas” do “discurso geracional” que hoje estão no poder moldaram a política partidária nos últimos anos e são a encarnação viva de um dos grandes problemas da democracia portuguesa, a partidocracia. (...)
Não é por isso de estranhar que os actuais governantes não tenham nenhum problema em usar os discursos de divisão social, em que se especializaram quando do “discurso geracional”. A frase da moção de Passos Coelho sobre a “apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações” é prenhe de significado político e ideológico, mas deve ser combatida sem transigências. É má no plano político e falsa no seu conteúdo. Quem define o que é “excessivo”? Como se pode arrogar de “defender” os “jovens” quem degrada as suas condições de vida actual, inclusive ao atirar os seus pais e avós para a pobreza, e quem empurrando-os para o desemprego, a emigração ou para a precariedade, lhes estraga o presente e o futuro? E que “futuro” vão ter, sendo menos qualificados e com salários mais baixos, “ajustados”? (...)
Este é o produto de gente mal formada, como se dizia antigamente. Linguagem do passado, bem sei, sem “reflexão prospectiva”.»
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3 comments:
Joana:
Porque não põe o texto «A nova normalidade», saído na Sábado e posto no Abrupto pelo JPP?
É muito mais interessante, pois aborda a praxis governativa destes jotas.
Obrigada, António.
Claro que a escolha de textos é sempre subjectiva e eu gostei deste. Além disso, no caso que aponta, trata-se de algo que já está online num blogue e eu tenho uma secção específica, na barra lateral, onde «recomendo» alguns «posts». E esse já lá está desde ontem.
Joana:
Tem razão, falha minha, não reparei.
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