Abro o i online e leio que António Arnaut afirma: «O PS deve negociar com todas as forças políticas à sua direita e à sua esquerda. Eu preferia um governo de uma coligação ampla, que tivesse no seu seio elementos do PCP, do Bloco de Esquerda e eventualmente também do PSD».
Chego ao Público e encontro uma longo artigo de José Pacheco Pereira – «O confronto de (talvez?) 2015» – , no qual, depois de afirmar que vê «muito pouca utilidade nessa distinção [esquerda / direita] para analisar o que se passa nos dias de hoje, quer no mundo, quer em Portugal. E muito menos para agir.», o autor opta pelo binómio «a favor ou contra o governo»: «Um programa máximo de unidade contra o actual poder, só é eficaz se for combinado com um programa mínimo quanto aos problemas de soberania, pertença à Europa, euro, economia e contratos sociais garantidos, que reponham a esperança no presente.»
Se entendo a urgência de apear o actual governo o mais depressa possível, não me parece que estas louváveis aproximações sejam um instrumento útil para fazer sair o país do marasmo em que se encontra, nem sequer a curto prazo. E não estou com isto a defender utopias ideológicas e amanhãs que cantam (embora houvesse muito a dizer sobre o apagar de fronteiras entre esquerda e direita), mas apenas a chamar a atenção para o que me parece ser uma questão fulcral: Portugal não vai sair do imbróglio em que se meteu, e em que depois o atolaram, sem encarar a questão da dívida e da sua renegociação, com reestruturação, de um modo totalmente diferente daquele que os partidos do chamado «arco da governação – PSD, CDS e PS – têm adoptado até agora. E não creio que a troca de Passos Coelho por Rui Rio e / ou de Seguro por António Costa (opções claramente desejadas por JPP) viessem alterar significativamente este posicionamento. Estarei enganada? Não creio, infelizmente.
Um indispensável processo de renegociação da dívida pode nada resolver se for seguido o modelo da Grécia, mas uma coisa é certa: a dívida pública portuguesa não pode, nem deve, ser paga a todo o custo. Mais: não vai sê-lo.
Os «desejos» de Arnaut e Pacheco Pereira têm isto em conta? Não me parece. Defender plataformas governamentais salvíficas com pés de barro pode não significar mais do que empurrar o problema com a barriga para a frente, como está na moda dizer-se. E é bom não esquecer que o desespero nunca foi bom conselheiro na procura de soluções adequadas e eficazes.
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4 comments:
De vez em quando concordamos...
Concordo parcialmente com a sua análise. Não percebo é a insistência única na reestruturação em detrimento da avaliação imediata da possibilidade de anulação da parte significativa da dívida que se sabe ser ilegitimas/ilegais (veja-se o BPN, rendas das eléctricas, e tantos outros casos).
Reestruturar implica quase necessariamente anulação de uma parte da dívida.
Uma renegociação (terminologia do PS) limitada às maturidades e juros (dos credores oficiais) acaba por significar aumento da dívida, embora ao longo de mais tempo. Não resolve a insustentabilidade da dívida. Por seu lado, essa ideia da insustentabilidade leva o mercado a pressionar os juros para cima.
Portanto, como bem diz a Joana, também eu penso, apesar de leigo, que não há renegociação que não seja de facto reestruturação, incluindo hair cut do montante da dívida.
Vejam-se as apresentações do recente debate da IAC:
http://www.auditoriacidada.info/sites/default/files/Renegociar_a_divida_-_Quando_e_Como_RCABRAL.pdf
http://www.auditoriacidada.info/sites/default/files/Renegociacao_da_divida_urgencia_e_desafios.pdf
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