2.4.14

O suicídio de Hollande?



Quando se sabe agora a composição do novo governo francês, no qual se mantém a maioria dos antigos ministros (o que implica algumas cedências «à esquerda», o que quer que isso possa significar...) e todas as atenções se dirigem para a entrada de Ségolène Royal, que passa a ser o nº3 do novo gabinete, este texto de Ana Sá Lopes é útil para antever o que aí vem:

Hollande suicida-se (agora, sim, foi de vez)

«A vantagem de Manuel Valls, o novo primeiro-ministro francês, é que, ao contrário de François Hollande, não engana ninguém. É o mais sincero dos militantes do PS francês - há uns anos sugeriu a mudança de nome do partido tendo em conta que havia pouco "socialismo" a difundir pelo PSF na sociedade francesa e era preciso não assustar nem mercados nem capitalistas. Martine Aubry, antiga presidente do PSF, respondeu-lhe que se não se sentisse bem no partido o abandonasse, mas era impossível banir o socialismo do nome do partido. Valls ficou e agora está a colher os frutos de ser o mais à direita dos ministros de Hollande e de ter ocupado o topo das sondagens enquanto a popularidade do presidente agonizava.

Manuel Valls (...) tem uma linguagem contra os imigrantes mais dura que a de Sarkozy. Aliás, enquanto ministro do Interior expulsou de França mais comunidades ciganas que Sarkozy. (...) Querem a direita? Então tomem lá, decidiu Hollande. E desde segunda-feira é oficial: toda a França, incluindo o governo socialista - de que já se auto-excluíram os Verdes - virou totalmente à direita. Hollande e todo o seu projecto de acabar com a austeridade, etc., suicidaram-se. Não existe nenhuma aldeia gaulesa capaz de resistir ao consenso invasor de Bruxelas, Berlim e Frankfurt, quando todos os partidos socialistas e social-democratas são cúmplices da via única traçada que nos promete austeridade para o resto das nossas vidas. (...)

Mas a entrega do Palácio de Matignon a um duro da direita do partido que não gosta do nome "socialista" simboliza o suicídio de François Hollande e, de certa maneira, a capitulação de toda a social-democracia europeia.» (O realce é meu.)

Na íntegra aqui
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2 comments:

Niet disse...

Hollande vira-se para a segunda geração de " rocardianos ", antigos colaboradores e fellows do antigo PM, Michel Rocard, o último grande politico socialista que, apesar de possuir imensas qualidades, não conseguiu impôr-se a Mitterrand para lhe suceder como PR. Ao contrário do que a pequena análise de Ana Sá Lopes observa, Valls conta com o apoio inicial da poderosa facção de Martine Aubry, que era dada como PMinisteriável, do principal conselheiro politico de Hollande, Aquilino Morelle, e de Arnaud Montebourg, um trans-corrente muito empertigado e sério candidato a secretário-geral do PSF.Mesmo Michel Rocard saudou a " escolha " de Valls; o recém indigitado PM tinha apoiado de alma e coração a tentativa de pré-
-candidatura de Dominique Strauss-Khan para defrontar Sarkozy para PR, tentativa desfeita pelo " escândalo " no Sofitel de New York. Manuel Valls é filho de um conhecido pintor catalão, que se tinha refugiado em Paris durante o franquismo e, como é evidente, conhece(u) toda a inteligentzia pariseense; não é nenhum emigrante de " mala de cartão ", como AS. Lopes quer dar a entender... Salut! Niet

Niet disse...

O antigo maire de Paris, Bertrand Delanöe, esteve para ser PM em vez de Valls, só que não percebeu o convite " enviezado " de Hllande, revela hoje o grande magazine politico, Le Canard, um caso sério de longevidade...99 anos de sucessos e denúncia de escândalos politico-financeiros. Salut! Niet