Nicolau Santos, no Expresso diário de ontem:
«O ajustamento a que o país foi sujeito era necessário? Era. Partiu de uma análise correta das especificidades da economia e da sociedade portuguesas? Obviamente que não. E assim, depois de três anos a aumentar impostos, temos a quarta maior carga fiscal da União Europeia, com os piores rendimentos médios per capita dessa mesma União. Os cortes nos salários dos funcionários públicos e os que se reformaram colocaram a despesa pública salarial claramente abaixo da média europeia. E temos hoje uma administração pública mais eficiente e amiga dos cidadãos? Temos menos Estado mas melhor Estado? Qualquer pessoa vê que não. (...)
Em matéria de desemprego, há um aforismo criado pelos americanos. Quando é despedido alguém que não conhecemos trata-se de um abrandamento económico. Quando é despedido alguém que conhecemos é uma recessão. E quando somos nós os despedidos estamos perante uma depressão. Não há nenhuma família portuguesa que não tenha hoje algum familiar muito próximo que não esteja no desemprego. (...)
O ajustamento económico devastou a organização da nossa vida em sociedade e devastou a nossa população activa. Há quem tenha esperança e diga que vai levar anos a recuperar. Mas há quem se lembre bem das palavras do primeiro-ministro – só saímos daqui empobrecendo – para concluir que todas estas tendências vieram para ficar. Por décadas. E só poderá haver algum alívio se a Europa mudar de direcção e perceber que por este caminho está a condenar toda a periferia da zona euro ao inferno de Dante.»
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