Do texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) deste mês:
«Mesmo na sua diversidade, os resultados das eleições de Maio para o Parlamento Europeu só são surpreendentes para quem não tiver em conta que o projecto europeu está a revelar aos povos um rosto claramente eurofágico. E nem sequer se trata apenas de uma eurofagia aguda, como alguns picos que entram pelos olhos adentro podem fazer crer – esta eurofagia é crónica. Os poderes económicos e políticos que controlam a configuração da arquitectura institucional e monetária europeia trabalham estruturalmente no sentido de governar em segredo, dispensando ou contrariando a participação popular. O alheamento dos povos em relação às eleições europeias, que a generalidade da comunicação social instiga, traduz-se há muitos anos em níveis recorde de abstenção. Quaisquer que sejam as razões para os cidadãos não exercerem o seu direito de voto, são inevitáveis as consequências negativas que isso tem para o exercício do músculo democrático e para o enfraquecimento da soberania popular. A este elemento, que não é novo, juntou-se agora, em particular em países como Portugal, a grande dimensão dos votos brancos e nulos, que é difícil dissociar de uma não identificação com a oferta da representação ou, pelo menos, de uma descrença na sua capacidade de efectivar mudanças positivas. (...)
Há aqui uma urgência, que impõe a consideração de três tempos e a intervenção em todos eles, em simultâneo. O tempo daqueles cujas vidas são estilhaçadas para alimentar a acumulação do capital é um tempo curto, muito curto. (...) O tempo da conjuntura em que se preparam e ocorrem eleições, em que se negoceiam orçamentos e acordos, não pode ser alheio àquela urgência nem contar apenas com os desafogos conjunturais que advêm de decisões pontuais como a do Tribunal Constitucional português, que tanto desorientam a Troika, o governo e os Fernandos Ulrichs nacionais. (...) E por fim, a esta escala, o tempo longo da estrutura é aquele em que se tem aprofundado a neoliberalização europeia. Sem atacar esta arquitectura, qualquer futuro digno é um lugar longínquo e, no presente, os trabalhadores e os desempregados terão sido completamente sacrificados para garantir a liberdade financeira e comercial.»
Na íntegra AQUI.
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