António José Teixeira, no Expresso diário de ontem:
«O encerramento de escolas do 1.º ciclo tornou-se uma rotina desde 2005. Em três anos este governo fechou 923 escolas. Mas se as somarmos às que sumiram antes já vamos em mais de quatro mil escolas desmanteladas. Não será demais? O processo é imparável? A população residente está a minguar e a natalidade não para de baixar. Por este andar, não será que os únicos destinos para as nossas crianças são as escolas de Lisboa e Porto? É isso que queremos?
Portugal tem recursos limitados. Tem de fazer escolhas. Escolas, centros de saúde, segurança social, comunicações, tribunais, polícias e bombeiros são dimensões do Estado que devem obedecer a um critério de organização territorial. Não apenas a um critério economicista, que é relevante, mas não suficiente. Talvez num futuro próximo vivamos todos em cidades. Talvez boa parte do território se destine à floresta. Talvez tudo isto seja exagerado. Já tínhamos decretado o fim da agricultura e, afinal, não era boa ideia. Está a ressurgir. Precisamos dela. Como precisamos de gente, de mais coesão territorial e social. O esvaziamento continuado de muitas parcelas do território não resulta só do envelhecimento. É também a consequência do desinvestimento privado e público, da retirada dos marcos de serviço público. As escolas do 1.º ciclo do ensino básico são sinais de civilização, portas e janelas indispensáveis para qualquer horizonte de futuro. A reorganização da rede escolar não pode ser apenas uma questão aritmética. Há outros critérios a considerar. Os pedagógicos não são irrelevantes, mas devem ser conjugados com objectivos estratégicos nacionais e, consequentemente, com uma rede coerente de serviço público.
A inércia como critério não ajuda à agonia demográfica. O número 21 como fronteira da sobrevivência escolar é absurdo. As boas escolas e as escolas necessárias implicam outras abordagens. Há uma fundamental: Que estratégia de crescimento económico queremos adoptar? Esta decisão remete para outras abordagens: Como queremos organizar o território? Que espaço de manobra deixamos à sociedade? Perguntas há muito sem resposta cabal. Perguntas que exigem compromissos de futuro. Mas a que, teimosamente, não respondemos.» (Os realces são meus.)
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