Eduardo Paz Ferreira, no Expresso de hoje:
«Há poucos dias, sob a presidência (poderá usar-se o termo?) do príncipe de Gales, o mayor de Londres, o “Financial Times” e a Inclusive Capitalism Iniatiative, ligada à conservadora Henry Jackson Society, organizaram, em Londres, uma conferência especialmente divulgada por aquele jornal económico e consagrada ao tema do capitalismo inclusivo.
Entre os vários oradores, um lugar de destaque especial vai para a presidente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, uma fonte inesgotável de charme e declarações surpreendentes. Desta vez e depois de recordar que os níveis de desigualdade nos Estados Unidos atingiram os níveis da Grande Depressão e que, no Reino Unido, França e Alemanha, esses níveis voltaram ao valores de um século atrás, afirmou que “as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo, que cabem num só autocarro de dois pisos de Londres, controlam o mesmo montante de riqueza como a metade da população global — isto é 3,5 biliões de pessoas”.
Ainda que se tratasse de uma mera imagem, este hipotético autocarro ficará para sempre na memória de qualquer ser humano com um pingo decência, como um autocarro chamado vergonha. (...)
O que é especialmente grave pensar é que o significado profundo dessa conferencia não é o de repensar o sistema económico. Esta é uma conferencia fechada sobre si própria, com um carácter defensivo, bem evidente nas palavras de um dos organizadores: “Sentimos que pode haver um descontentamento público com o sistema tão forte que possa haver um risco real dos políticos o procurarem remediar legislando no sentido de acabar com o capitalismo”.
Pairará, por aqui, a sombra do Papa Francisco ou de Thomas Piketty, lidos de forma primária?»
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