25.7.14

Afinal CPLP = Comunidade de Países com Ligação ao Petróleo



É bom que não se vire a página sobre o que foi consumado em Timor, porque o futuro trará mais novidades e talvez alguma surpresas. No Expresso diário de ontem, António José Teixeira escreve sobre «A nova CPLP – Comunidade de Países com Ligação ao Petróleo» (link só para assinantes), que merece ser lido.

«Já muito se escreveu em Portugal sobre a velha Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Escreveu-se menos sobre a nova Comunidade de Países com Ligação ao Petróleo. Ambas respondem por CPLP. Uma morreu ontem, depois de 18 anos de retórica. A outra está aí, prometendo muitos anos de mais-valias. Faz toda a diferença. A transição fez-se com algum embaraço. Mas tudo não passou, como esclareceram Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, de um incidente protocolar. E os nossos dignitários não quiseram acrescentar outro incidente para não causar nenhum problema à condução dos trabalhos. Foi isto que disseram. Também para não causar problemas não houve votação. Afinal, havia consenso. Evitou-se assim a maçada de termos de votar a favor ou, quem sabe, de nos abstermos. Até o imprevisto de se chamar para a mesa quem ainda parecia não ter sido admitido foi bem pensado. Foi a prova provada de que não é preciso admitir quem já está admitido, não é preciso votar a admissão de quem já entrou em casa. Organização sofisticada, rápida e prática.

Doravante, a CPLP terá uma «nova visão estratégica», assim designada em Díli. Para não haver dúvidas, a página oficial da Guiné Equatorial deu a notícia da entrada na CPLP nas línguas espanhola, francesa e inglesa. A língua franca é o petróleo. A CPLP quer tornar-se um dos blocos mais importantes a nível petrolífero, pois 50% das reservas descobertas nos últimos anos são provenientes destes países. Leia-se: Angola, Guiné Equatorial, Brasil, São Tomé. Mais o gás de Moçambique... Ou seja, uma verdadeira Comunidade de Países com Ligação ao Petróleo. Em Portugal não há notícia de gás ou de petróleo, mas sempre podemos candidatar-nos à refinação do dito.

A ideia de que as instituições, os países e as relações internacionais se guiam por valores é interessante, mas pouco rigorosa. São os interesses que movem o mundo. A língua portuguesa deixou de ser um interesse comum, se é que alguma vez foi. O petróleo pode não ser um elo colectivo, mas é o interesse dos mais fortes. Portugal não foi capaz de contrariar esta realidade. Deixou-se encostar à parede. Cedeu para não ficar de fora. Mas já está. À porta, aguardam a sua vez: Albânia, Taiwan, Maurícia, Senegal, Geórgia, Turquia...» 
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