29.8.14

Optimismos adiados «sine die»



«Afogados numa dívida impossível de pagar com o serviço da dívida a que estamos obrigados, e com um défice emagrecido à custa de impostos sucessivos, enquanto os "negócios" com o Estado continuam a florir para alguns, os portugueses olham com desencanto para a Europa. (...)

Tudo se está a desmoronar. O Estado social e o próprio Estado-nação, como se pode ver com o que está a acontecer entre a Síria e o Iraque por acção do Estado Islâmico ou na Líbia, aqui tão perto da Europa. Aquilo que a Paz de Vestfália criou, a soberania nacional e o Estado-nação parece agora um parêntesis. E isso está ligado a uma nova fractura de que ainda pouco se fala, mas que é cada vez mais evidente: a aliança entre o capitalismo e a democracia parece estar a terminar, ela que foi cimentada pela classe média (que está a ser destruída) e pela noção ética do trabalho como valor fulcral (como defendia Adam Smith). (...)

A Europa, nesse aspecto, parece presa na sua inércia e nos dogmas alemães, que apenas se vê como um país exportador (apesar de isso ter assentado em salários baixos e trabalho precário), sem entender que o seu futuro será insignificante no meio da santa aliança dos BRICS e no desprezo dos alemães, que sempre preferirão a Grã-Bretanha, como há muito foi desenhado. O colapso alemão fará implodir a União Europeia, mesmo que alguns julguem que nada disso sucederá. Mas com Estados frágeis e a globalização errante, com sociedades sem esperança no futuro e precárias, a democracia está a ser asfixiada. E a classe política parece ainda não ter acordado para isso.».

Fernando Sobral

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