22.9.14

Culpa e vergonha (ou falta dela)



«Assumindo assim a "culpa política", os ministros dormem que nem uns santos injustiçados. Porque a "culpa política" vive hoje em Portugal independente da "vergonha". Isso desapareceu do comportamento moral da elite portuguesa. Assume-se a culpa como se fosse uma mancha de café ou de ketchup na camisa. Lava-se e esquece-se. E transfere-se. Afinal o que é assumir a "culpa política"? Não há sanção para isso.

Assim um ministro pode descarregar a punição na "culpa técnica" e essa sim é sujeita a uma sentença. Para se sentir culpa alguém tem de reconhecer que errou, que desobedeceu a um qualquer princípio. Quando se assume uma "culpa política" acredita-se que ela foi inocente e que, portanto, é perdoável. O técnico é que carregou no botão para que o Citius ou a fórmula de escolha estivesse errada. Os ministros estão acima destas coisas mortais. São deuses, acredita-se neste Governo. No fundo, neste país, o culpado é a vítima.»

Fernando Sobral

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