22.10.14

O sobrolho de Merkel



«Temos finalmente um orçamento. Mas um País desorientado, endividado, desempregado, empobrecido, com a coesão social presa por um fio, sem as finanças públicas consolidadas, descapitalizado, com o acesso aos mercados condicionado.

Onde estávamos em 2011 e onde estamos hoje? Melhor? Alguma coisa melhorou nestes três anos e meio que levamos desta política chamada de austeridade, que por um passe de mágica alemão transformou uma crise bancária global, na crise das dívidas soberanas na Zona Euro?

Ao fim de três anos e meio os nossos governantes lançam para cima da mesa, no seu mais importante instrumento de política económica, um documento ambíguo na aparência, mas no fundo tanto ou mais duro que os anteriores: a receita fiscal prevista nunca foi tão alta como a que se propõe neste OE2015. E o que era a prioridade das prioridades, consolidação das finanças públicas através da "eliminação das gorduras do Estado", limitando a despesa, continua a ser feita, sobretudo pelo lado do aumento da receita. (...)

Entretanto o nosso [Governo] nunca teve um programa que não fosse o imposto pelo MoU da troika. Agora que ela deixou de ser omnipresente, alguém pensou, em ano de eleições, que era possível fazer um pouco diferente. Mas bastou um franzir do sobrolho da Chanceler Merkel para se concluir que a solução era retomar o trilho anterior com alguns números de ilusionismo. Mas, se não tinha programa o Governo tem uma agenda: uma agenda liberal conservadora, pegada com cuspo, que lhe permitiu fanfarronar a adopção do programa dos credores "porque esse era o seu programa" e até o queria ultrapassar. No que pôde, fê-lo.»

José Maria Brandão de Brito

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