«O Orçamento do Estado não deve ser comparado com o de uma família ou com o de um pequeno negócio, como uma mercearia, apesar das lógicas metodológicas "contabilistas" serem algo semelhantes, mas não precisam de ser apresentados em "pen", pois não têm tanta complexidade burocrática, traduzida em muitos "megas" ou "quilos" de resmas de papel, rotulados de transparentes e rigorosos: dois "chavões" que são importantes para os contabilistas, mas que nada valem em termos económicos.
O Orçamento do Estado deve ser o espelho de uma estratégia e até de uma ideologia e não um mero instrumento de gestão do "sistema", caso contrário, pode efectivamente ser feito por aprendizes de merceeiros, que sabem já distinguir o "deve" do "haver". Digo aprendizes, porque para ser merceeiro já são necessárias outras competências, que envolvem visão e, pelo menos, estratégia de portefólio de produtos e dimensionamento da oferta. (...)
Não há memória de nenhuma economia ter sido recuperada pela via da austeridade. Menos rendimento gera menos consumo e menos investimento, que por sua vez gera menos produção e menos emprego. Menos motivação e menos força anímica de um povo. Mesmo para quem não é observador da realidade, esta matéria vem nos livros de economia. (...)
Assim continuamos longe, muito longe, da reconciliação com as realidades actuais. Para governar um país, um sistema complexo, é preciso visão, estratégia, sobretudo coragem, senão mesmo é melhor vender salsichas, antes que tenhamos de vender o país.»
Miguel Varela
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