24.10.14

Renegociar a dívida – uma questão moral



«Foi entre a questão do monopólio dos tabacos (e da dívida externa) e a crise do Crédito Predial que a Monarquia foi deslizando para a República e esta para o Estado Novo. O pântano dos interesses pessoais e de grupo alimentaram sempre as sementes das grandes mudanças.

Quando se olha hoje para a implosão do grupo Espírito Santo e para aquilo que, para já, foi arrastado no furacão (comece-se pela destruição da PT), percebe-se que no centro de tudo está a destruição de uma estratégia para o país sustentada nos interesses particulares de alguns. O que era bom para o BES era bom para a PT e o que era bom para estes era bom para o Estado, incluindo a compra de submarinos, algumas privatizações, algumas escolhas de pessoas para os lugares certos. No meio de tudo isso, facilitadores de negócios prosperaram. (...)

Um modelo de Portugal desintegrou-se perante um Governo que apenas está preocupado com o Orçamento e com o saque de impostos e outro está a tentar nascer (feito de empresas de pequena e média dimensão) que têm como guilhotina em cima das suas cabeças o inexistente crédito, uma burocracia e justiça inclementes e impostos demolidores. Será talvez um país mais flexível mas que tem de lutar contra a falta de jovens quadros que emigraram devido ao convite deste Governo. Mas o grande problema é que nas cinzas do que implodiu com estrondo continuam a existir grandes grupos de interesses que se alimentam deste Estado fraco, que expurga da administração pública os melhores em nome da "reforma", que facilitam contractos e negócios, que aspiram a ganhar a comissão das últimas privatizações e de outras empreitadas gerais. Aí Portugal não mudou. Empobreceu, continuará a estar exangue enquanto não renegociar esta dívida brutal com um serviço da dívida impossível de pagar com este crescimento. A questão é política. É social. É de visão estratégica. Mas, sobretudo, é moral. É, tristemente, uma questão moral.» (Realce meu.)  

Fernando Sobral

0 comments: