28.11.14

Da avó alemã



«Enquanto em Portugal nada se discute para lá de Sócrates, o mundo europeu defronta-se com os seus medos. O Para Francisco foi claro: a Europa é uma avó que deixou de ser fértil e vibrante. (...)

Uma Europa cada vez mais unipolar, gerida por Berlim, que faz identificar os interesses de toda a Europa com os seus interesses estratégicos e económicos. Uma entrevista dada há dias por Romano Prodi, antigo presidente da Comissão Europeia, ao "Il Messaggero", é eloquente: a França está desorientada e a Grã-Bretanha perdeu o seu poder. Assim, como diz, "todos os países que anteriormente mantinham um equilíbrio entre a Alemanha, França e Grã-Bretanha (da Polónia aos estados bálticos, e passando pela Suécia e Portugal) estão a reagrupar-se debaixo do chapéu-de-chuva alemão". (...)

Sucintamente, a Alemanha tornou-se o árbitro da Europa. Como sabemos, as regras do futebol cumprem-se quando o árbitro apita e agora a Alemanha mostra cartões amarelos a muitos países". O problema é que, confrontada com os seus próprios fantasmas, como diz Prodi, a Alemanha nega a sua própria liderança, pensando apenas na austeridade e nos limites orçamentais. Destruindo qualquer hipótese de ar fresco que faça renascer a vitalidade. E que permita que os países da periferia ganhem fôlego e que a avó possa passar por uma fonte da juventude.

A Alemanha envelhece e ao mesmo tempo faz com que todos os que se abrigam debaixo da sua protecção sejam contagiados por esta entropia. Ao mesmo tempo o conceito de Europa como uma forma de democracia alargada, entre países iguais e democráticos, esvai-se. E a Europa, quando a política de alianças se fragmenta, geralmente perde a noção da realidade e perde-se em tragédias várias. É uma pena que, em Portugal, se passe ao lado deste momento histórico que definirá o futuro da União Europeia. E do euro.»

Fernando Sobral

1 comments:

joão viegas disse...

Ola,

"Como sabemos, as regras do futebol cumprem-se quando o árbitro apita".

Tenho muita pena, mas é exactamente ao contrario, as regras do futebol cumprem-se enquanto se cumprem e, quando deixam de ser cumpridas, então o arbitro apita. As regras que se passam a cumprir a partir desta altura, são apenas aquelas, secundarias e mais raras, cuja aplicação pressupõe o incumprimento das regras primarias...

Assim com a Europa e com as relações com a "avo alemã" (que raio de comparação). Acordem meninos, isto não é sobre culpas, nem sobre karmas. A Alemanha dita enquanto (e porque) não tem interlocutores.

Não tem interlocutores porquê ?

Boas