«Não é um conto de fadas. É simplesmente o nosso fado. Três anos de austeridade que passou por Portugal com a inclemência de uma ceifeira debulhadora e o défice estrutural lá continua.
O serviço da dívida público (e, já agora, privado) é tão elevado que bastará um espirro dos chamados mercados para que uma gripe se instale entre nós. Três anos depois de alquimias perfeitas (porque sempre iguais quando um país deixou de ter a arma da desvalorização cambial) do FMI, da União Europeia e da OCDE, só há uma convicção: o país está mais pobre. Mas continua de mãos atadas pelo défice e pela dívida. Ou seja, entregue aos humores das grandes potências e interesses estrangeiros. A oligarquia que nos governa mudou algumas faces mas continua a distribuir entre si o que sobra. Ou seja, o sistema está bloqueado. Em 1918, Ezequiel de Campos, na revista "Pela Grei", clarificava friamente a questão: "Não pode haver liberdade política onde há completa sujeição económica". Ou seja, ao contrário do que por aí corre, não nos libertámos da troika, nem desta União Europeia obtusa que, depois da estagnação, caminha para a deflação e que, um dia destes, será apenas um museu de cera do mundo. (...)
O défice não é o micróbio moderno da nossa vida financeira mas, pelo contrário, é tão antigo como a nacionalidade. Não parece ir parar por aqui. O que custa é que nunca aprendemos lições com o passado. Mas nisso não estamos sós. A Europa parece hoje uma tertúlia caduca obcecada com as contas de somar e subtrair. O desafio militar de Putin a uma Europa que militarmente não tem voz, e por isso deixou de ser uma voz forte nos conflitos internacionais, mostra que a austeridadezinha como ideologia vai levar à insignificância. E Portugal, bom aluno, segue assim rumo ao abismo. Comandado de Berlim e Bruxelas, os donos da dívida.»
Fernando Sobral
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1 comments:
A Rússia, a China, a Índia, a Indonésia, o Brasil já se estão a dar conta de que a Europa está presa nas malhas de uma ideologia rudimentar e dogmática; vêem nisto a fraqueza que realmente é; e, onde vêem fraqueza, carregam. Não é por mal: é Realpolitik.
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