«Noé foi uma personagem com bastante popularidade. Muitos admiram ainda hoje o seu instinto de sobrevivência, a forma como actuou perante a tragédia, a sua liderança no meio do caos. (...)
Os Noé do nosso tempo chamam-se Couto dos Santos e José Lello. Defensores da sobrevivência da sua própria espécie enquanto os outros são fustigados pelas ondas da tragédia anunciada. Não importa que, num espírito leninista, tenham dado um passo à frente e dois atrás. E que a sua proposta de reposição das subvenções vitalícias para os políticos tenha sido colocada no frigorífico à espera de mais calor para voltar a nascer.
Nada evita o naufrágio definitivo destes nossos Noé, que só têm bóias de salvação para si próprios. A sua proposta (que tinha apoios fortes no PSD e no PS) demonstra que alguma classe política portuguesa não aprendeu nada com estes anos de loucura consumista e de austeridade tenebrosa. Acreditam que tudo voltará a ser como dantes. A sua proposta não era moral, nem imoral. Era amoral, a pior de todas. Porque não media as consequências, nem políticas nem morais, do que está em causa.
Esta classe política vive numa arca estilo clube do Bolinha: o povo comum não entra. É dispensável. É por termos deputados assim que o regime se desagrega e se enche de bolor. E vai afastando os cidadãos dos eleitos abrindo o dique para o populismo. Couto dos Santos e José Lello estão há tantos anos no Parlamento que se confundem com a mobília do regime. Será que, nas próximas eleições, ainda serão escolhidos pelas lideranças do PSD e do PS para se voltarem a eleger?»
Fernando Sobral
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