11.12.14

BES: dias de facas nem curtas nem longas



«O longo dia em que Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi falaram na AR nem foi de facas longas nem de facas curtas. Foi um ajuste de contas familiar onde o País, perdido e falido, pareceu estar ausente.

Onde a bondade do Banco de Portugal, e por isso mesmo a conciliação (ou não) com o novo poder, pareceu sempre mais fulcral do que a atitude de cada um para com os interesses gerais da nação.

Como escrevia Tolstoi em "Anna Karenina", "todas as famílias felizes assemelham-se umas às outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira". Na família Espírito Santo, a crer nas declarações mais defensivas de Salgado e mais inflamadas de Ricciardi, a infelicidade familiar decorreu de questões de ego e de poder que não foram ponderadas com sensatez. Ou então de inimigos externos que apenas desejavam o mal do grupo que tinha a sua impressão digital colocada em quase tudo o que acontecia em Portugal. (...)

Ninguém tem dúvidas que se alguém perdeu a sério nesta guerra foram os portugueses. A questão é que se perdeu a fé. Um banco, como o Estado, necessita de ser o símbolo de uma fé. E ela, no grupo Espírito Santo, tal como no Estado português, tinha a ver com segurança. Foi isso que desapareceu em Portugal. No GES e no Estado. As declarações de Salgado e Ricciardi apenas evocam o óbvio: confunde-se demasiado o interesse de alguns com o do país.»

Fernando Sobral

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