31.1.15

O espectro que assola a Europa




Título do texto de José Pacheco Pereira, no Público de hoje. Os dois parágrafos finais: 

« A União Europeia não sobrevive à substituição de uma política de coesão e de interesse mútuo pela pergunta pavloviana dos novos mestres: “quem é que paga?”. É que antes também só alguns pagavam, mas percebiam que a construção da Europa era uma vantagem política para todos, e que o preço era pequeno. Pagavam desmandos? Pagavam e sabiam que pagavam, quer fosse a falcatrua das contas gregas quer fossem os privilégios dos agricultores franceses. Hoje quem pergunta “quem paga?”, para depois dizer que não quer pagar para esses preguiçosos do Sul, está a usufruir das vantagens da União, a garantir que o euro é uma nova versão do seu marco, ou que os mercados a leste lhes estão abertos como nunca estiveram desde o tempo nefasto do Generalgouvernement, ou que puderam beneficiar do fim da guerra fria sem grandes turbulências à porta. Desequilibrem a Europa e depois admirem-se de Putin estabilizar as suas conquistas a Leste; dividam a Europa entre os amigos da austeridade e os seus inimigos e depois queixem-se de muitos segundos ou terceiros partidos serem extremos, anti-europeus, populistas, radicais; aticem os mercados contra os “que se portam mal” e depois queixem-se de haver saídas do euro, e queixem-se ainda mais se elas se revelarem vantajosas a prazo.

Ninguém pode garantir que o Syriza tenha sucesso, e também não é fácil definir qual o grau de cumprimento das suas intenções que possa ser considerado pelos gregos um sucesso, mas os gregos que votaram no Syriza prestaram um enorme serviço à Europa, desbloquearam-na, abriram novas possibilidades, umas boas e outras más. Os gregos fizeram história, no sentido de que quem conhece a história sabe que ela é sempre surpresa. É por isso que, como na célebre frase de 1848, um espectro assola a Europa: o do Syriza.»
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