A catástrofe humanitária em curso na Grécia terá um ponto de viragem no dia
25. Nesse dia, se se confirmarem as sondagens que dão a vitória ao SYRIZA, as
eleições podem colocar o país, destroçado pela austeridade da troika e de
sucessivos governos neoliberais, no caminho da soberania democrática. Será um
momento decisivo para todas as pessoas que vivem na Grécia.
Também será um momento importante para quem vive em Portugal, na Irlanda e
em todas as sociedades sufocadas por uma farsa económica. Os programas de
ajustamento estrutural fabricaram sociedades divididas. Se não lutarmos contra
isto, essas sociedades entrarão num colapso definitivo e irreversível. Este não
é o único caminho. A política pertence ao domínio dos seres humanos e não ao
domínio da física.
A chantagem exercida pelas instituições europeias e pelo governo de
coligação sobre quem tem o direito de exercer o voto livremente é inaceitável,
mas tem uma vantagem: mostra-nos que temos o dever de assumir uma posição. Essa
posição é clara: só um governo de esquerda pode destruir o bloqueio da dívida e
da destruição social. O direito soberano de decidir sobre o destino colectivo
pertence a quem vive na Grécia; o dever solidário de dizer o que pensamos e
queremos pertence a quem vê estas eleições como mecanismo de desbloqueio.
Se a esquerda vencer, a dívida deixará de ser sagrada. Se a esquerda vencer,
o euro e o Tratado Orçamental deixarão de ser sagrados. Se a esquerda vencer, o
destino colectivo deixará as mãos de quem só gosta de eleições e liberdade
quando as decisões são tomadas em gabinetes fechados por peritos convencidos da
sua superioridade e oferecidas, com um laço em cima, a quem persiste numa luta
ingrata pela sobrevivência.
Esse destino colectivo voltará às mãos a que nunca deixou de pertencer: a
quem vive na Grécia. Uma vitória da esquerda significará a vitória sobre os
tabus que nos impõem a partir do eixo Bruxelas-Frankfurt-Berlim. E, se a
esquerda vencer, uma frente internacionalista unida ganhará força para
questionar as verdades adquiridas dos mercados, das finanças e da especulação.
As mesmas verdades adquiridas que nos impõem todos os dias.
Se a direita vencer, essa terá sido a decisão da maioria dos eleitores
gregos. Mas não terá sido uma decisão livre de condicionamentos. A Comissão de
Juncker não se manifesta acerca do escândalo Luxleaks, mas vai a Atenas para amedrontar
pessoas e famílias que, ao longo de anos, têm resistido ao novo europeísmo,
autoritário e gerador de miséria. O BCE de Draghi resgata bancos privados, mas
promete apertar o garrote sobre um futuro governo de esquerda. O FMI de Lagarde
reconhece não saber como ajudar a Grécia a recuperar, mas sabe que não quer a
esquerda no poder.
Estão com medo. Ainda bem. Quer dizer que, afinal, há alternativas. Sabemos
que essas alternativas podem não ir tão longe como alguns gostariam e irão mais
longe que o desejado por alguns aliados de circunstância. É bom que assim seja.
A política foi feita para definirmos, em conjunto, o nosso destino colectivo.
Não foi feita para aumentar os lucros de empresas transnacionais e fundos de
investimento. Depois destas eleições, os aliados de circunstância podem
inventar as acrobacias que quiserem: se a esquerda vencer, a dívida e o euro já
não serão ícones sagrados.
Quem vive na Grécia decidirá. Nós já decidimos de que lado estamos. Não
vamos criar nenhum movimento, nem plataforma. Somos apenas um grupo de amigos
que decidiu divulgar este pequeno texto.
Helena Romão
Joana Lopes
Luís Bernardo
Mariana Avelãs
Miguel Cardina
Nuno Bio
Rita Veloso
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1 comments:
É bom acreditar que há outros caminhos alternativos ao da miséria que nos está a conduzir este Governo. Contudo, eu julgo que isto é mais profundo e começa a ser um problema civilizacional, onde o dinheiro é um fim e não um meio.
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