5.5.15

Caminhamos para ideias únicas?



«Voltaire dizia, com um espírito tortuoso, que a arte da medicina consistia em entreter o paciente enquanto a natureza curava a doença.

Ressalvando-se o óbvio exagero, poderia dizer-se que alguns políticos acreditam que a sua grande arte é entreter o eleitor, enquanto o Estado ou o mercado resolvem o problema, consoante as vestes ideológicas que usam.

Portugal, nesse aspecto, tratou com antibióticos o problema da dívida e do défice mas, agora, está a reparar nos danos colaterais da sua política de choque. (...)

As propostas económicas do PS são o resultado deste equívoco. Hoje a economia e as finanças são hegemónicas, mas um país não se esgota nelas. E o problema é que, querendo ser alternativa, o PS tem de ser mais do que unicamente uma opção económica. E é isso que está a parecer querer ser, como se vê nas múltiplas declarações à imprensa dos economistas que elaboraram o projecto do PS. Como se a alternativa se reconduzisse a isso.

Um dos problemas da social-democracia europeia é este: deixou-se aprisionar num discurso de gestão económico-financeiro, que sendo fulcral, não é um modelo total de sociedade. Mário Centeno parece já ser a "voz económica" do PS, dizendo que "seria negar-me a mim próprio" não defender uma auditoria para validar de forma "independente" as suas propostas. Como defende o PSD ou o CDS. Ou seja, como discurso a alternativa é zero, porque defende a hegemonia da decisão técnica à política, a essência da democracia. Caminhamos para as ideias únicas?»

Fernando Sobral
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