Costas Lapavitsas é um conhecido professor de Economia e deputado eleito pelo Syriza nas eleições de Janeiro de 2015, que há muito defende que a Grécia não conseguirá ultrapassar a grave crise em que se encontra sem sair do euro. Disse-o aliás quando veio a Lisboa, em Dezembro de 2011, como orador na Convenção fundadora da IAC, e afirmou o mesmo numa entrevista que concedeu então ao Jornal de Negócios, que merece ser lida a mais de três anos de distância. Note-se que incluía Portugal no cenário, insistindo na mesma tecla em artigo que assinou, conjuntamente com Nuno Teles, em Abril de 2012: Para Portugal, o tempo está a esgotar-se.
Deu agora uma longa entrevista a dois jornais, Der Tagesspiegel e ThePressProject International, onde começa por dizer que a «a estratégia do Syriza tem sido – e continua a ser – a de considerar que uma mudança no alinhamento político de forças na Grécia, na Europa, e em geral, agiria como um catalisador na Eurozona. Mas esta estratégia já chegou ao fim e a verdadeira questão consiste em saber quanto tempo será necessário até que as pessoas o entendam.» E acrescenta um pouco mais adiante: «Penso que os líderes do partido sabem que têm pela frente uma escolha muito difícil: perseveramos com o programa que anunciámos ao povo grego, ou submetemo-nos àquilo que as instituições, o grupo de Bruxelas, a troika, ou o que lhes queiram chamar, pretendem que façamos? As duas coisas são incompatíveis» e «a Grécia precisa de encarar o verdadeiro caminho alternativo que é deixar esta união monetária falhada».
Lapavitsas reconhece que, directa ou indirectamente, o mandato que o Syriza detém vai no sentido de manter o país no euro, mas considera que se impõe a abertura imediata de um largo debate sobre uma estratégia alternativa, que prepare uma saída consensual e não contestada – bem antes de se falar de um referendo sobre a matéria. Mais: acredita que a Eurozona até pode mesmo desejar essa saída.
Mas deve por isso a Grécia sair também da União Europeia? Não necessariamente. «Há uma confusão que se mantém há anos e que é absurda, já que existem membros da União Europeia que não pertencem à União Monetária Europeia. Se a Grécia sair do euro não tem de sair da União Europeia ao mesmo tempo. (…) Essa associação tem sido mortífera e está a ser utilizada ideologicamente».
Costa Lapavitsas desenvolve detalhadamente os seus pontos de vista, ao longo de toda a entrevista que merece ser lida na íntegra. Destaque-se este parágrafo lapidar: «A União Europeia e a Grécia têm de perceber que estão a chicotear um cavalo morto. Depois de cinco anos de tortura, é tempo de acabar. Esta estratégia chegou ao fim. Haja algum bom senso, por favor…»
O futuro, mais ou menos próximo, dará ou não razão a Lapavitsas e àqueles que como ele pensam, desde há muito ou à medida que os acontecimentos têm evoluído. A verdade é que os gregos continuam a querer, maioritariamente, permanecer na Eurozona: 66,5%, segundo uma sondagem recente (percentagem que desce para 53,% no caso dos eleitores do Syriza). Toda a questão está em saber se não estão a tentar resolver o problema da quadratura do círculo, que os seus antepassados geómetras formularam há muitos séculos.
Entretanto, assistimos ao esticar destas várias cordas dentro do povo grego e à resistência que ele conseguirá manter, ou não, na guerra que os seus supostos «parceiros» exteriores lhe movem. Um espectáculo que não é nem bonito, nem estimulante, para quem vive na Europa a meio desta segunda década do século XXI.
[Publicado originalmente no Observatório da Grécia]
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