18.5.15

País partido ao meio



«A lei da inércia vai sustentando o Governo, ao estilo do personagem dos desenhos animados, o célebre Coyote, que conseguia não cair no precipício, como se flutuasse no ar. Mas por fim precipitava-se no abismo quando olhava para baixo.

Lição política: o melhor é não olhar para o que se fez. É isso que o Governo faz: mira os dados do PIB, esquece os da dívida, olha para os das exportações e oblitera os do desemprego. Com a greve da TAP, o Governo faz o pino e aproveita a desastrosa aventura dos pilotos para privatizar a todo o vapor, como se não existisse amanhã. Nem tempo.

A questão é que, como insinuam as sondagens, os portugueses não encontram no PS uma voz de confiança. (...) O País vai ficar dividido ao meio, sem uma maioria clara, e em busca de acordos de regime ao estilo da sopa de pedra: atira-se tudo lá para dentro, mexe-se, e depois logo se vê o sabor. (...)

Mas talvez os discursos políticos não sejam tão diferentes. São flores do mesmo jardim plantado pelo Tratado Orçamental, pelo euro e pelo BCE. E, por isso mesmo, o embate esperado tornou-se num empate sonâmbulo.

Mais do que uma qualquer impossibilidade de alianças após as eleições, e o caos decorrente das presidenciais logo a seguir, o que transpira destas sondagens é que o País parece uma jangada imóvel. À espera de uma brisa que não aparece.» 

Fernando Sobral

0 comments: