«Durante muito tempo vimos os gregos como uma réplica de Zorba, o grego imaginado por Nikos Kazantzakis e magistralmente interpretado por Anthony Quinn.
Numa terra de poucos Onassis, Zorba simbolizava uns gregos que, não tendo isenções fiscais e dinheiro em "off-shores", viviam a vida enquanto os seus sonhos triunfais acabavam sempre em desastre. Todos os seus negócios fracassavam porque Zorba estava mais interessado em dançar e divertir-se. Tudo isto pode parecer irresponsabilidade? Pode. Essa é a imagem dos gregos que, junto dos habitantes do Norte da Europa, sempre passou quando não estavam a passar férias nas suas ilhas ou a ler Aristóteles e Platão.
Mas olhando para os diferentes concílios sobre a crise da Grécia fica-se com a noção de que Zorba conquistou o FMI, o Syriza, a UE e o BCE. Durante estas semanas as chamadas conversações para resolver a crise grega assemelharam-se a filmes de duvidosa qualidade. (...)
Os diálogos são de humor básico e todos os actores, sem excepção, da esquerda à direita, dos credores aos devedores, parecem esquecer que este é o momento em que se está a enterrar o sonho do euro e, ainda mais, a visão de uma Europa unida e solidária. Todos por si e um por nenhum é o lema dos novos mosqueteiros da Europa. Que, assim, deixa de ser um símbolo, um farol moral ou um território de paz. Depois deste espectáculo vergonhoso quem é que, no seu perfeito juízo, acreditará que o euro tem futuro ou que a União Europeia se irá reformar? A curto prazo tudo poderá, no fim, assemelhar-se a um pudim liofilizado, mas, a prazo, o dano está feito. Esta Europa é hoje um Zorba decrépito.»
Fernando Sobral
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