7.7.15

Lenine em Atenas



«Lenine passeia-se pelas ruas de Atenas. Um passo à frente, dois à retaguarda, sussurra, sem precisar de erguer uma bandeira vermelha. Sai Varoufakis, o demolidor de burocratas europeus, entra um outro ministro mais maleável com as palavras.

Muda a táctica, mantém-se a estratégia. Tsipras não é Lenine, mas o voto que recebeu dá-lhe fôlego para continuar a capturar o seu captor. (...) O medo não é uma táctica nos Balcãs e há muito, se lessem um pouco de história, os dirigentes europeus das famílias políticas que mandam teriam percebido isso. (...)

A Grécia tornou-se uma barragem a desabar pela força das águas: a norte da Europa a extrema-direita prepara o assalto ao poder se a UE ceder; a sul a extrema-esquerda pensa o mesmo se a UE não ceder. E, em Bruxelas, os burocratas analfabetos esquecem que o Syriza não está sozinho no governo (a direita nacionalista também lá está) e a força do voto do "não" é um sintoma de uma nação que está farta de ser humilhada por tudo e por todos. No meio de tudo isto a Grécia pode suicidar-se (com uma "pequena" ajuda da Europa), mas, se isso acontecer, o glorioso futuro do euro será um buraco negro. Não há anjos nesta história. Mas a Europa deveria lembrar-se da reestruturação da dívida alemã em 1953. Se não tivesse acontecido, o que seria hoje a Europa? O tempo de indecisões acabou.»

Fernando Sobral

1 comments:

Miguel disse...

O cronista quereria com certeza dizer "um passo atrás, dois passos à frente".
Ou então sou eu que não percebi a ideia.
miguel t p, marvão