10.7.15

No país das pragas e dos pecados capitais



«O debate do Estado da Nação permitiu aos portugueses descobrirem que durante vários anos foram assolados por pragas e pecados capitais. Para todos os gostos. Se juntarmos uns e outros chegaremos à triste conclusão que PSD, PS e CDS não conseguem chegar à conclusão de quem tornou o país mais pobre, mais dependente e mais irrelevante. Mas há uma certeza: entre pragas e pecados quem pagou com a carne e com a alma foram os portugueses. (...)

Tudo o que se tem vivido nos últimos anos, entre o "despesismo" e os empréstimos e austeridade, que só serviram para reforçar o poder económico (como se viu nos dados agora revelados, das compras cada vez maior a Berlim aos juros cobrados) e político da Alemanha, a dívida serve para tudo. Até para que, à falta de melhores ideias sobre o modelo económico para Portugal e uma séria reflexão sobre o nosso futuro se o euro correr mal, se perceba a pobreza intelectual que reina na elite política nacional, entretida entre pragas e pecados. (...) Estamos mais pobres, é o retrato cruel. O nível de vida (no patamar da Eslovénia, Lituânia ou Grécia) está 20 a 30% abaixo do padrão europeu. Entre 2010 e 2013 o PIB per capita caiu 7% face ao mesmo padrão. Como base de tudo isto está a ficção que o euro trouxe aos portugueses: uma economia baseada no consumo privado e no crédito fácil. Os resultados, fruto das actuações de quem fala em pragas e pecados dos outros, são visíveis: uma dívida, pública e privada, astronómica, o fim da nossa autonomia face aos credores, um empobrecimento generalizado, um aumento de emprego precário, uma emigração enorme, um desemprego muito forte e impostos muito acima do razoável.

Ou seja, não é por acaso que vivemos anos de pragas e pecados e escusam-se os que contribuíram para isso de saltarem fora da carroça. (...) Só os portugueses comuns sofreram na carne as opções de outros.»

Fernando Sobral

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