«Portugal está mais pobre e não apenas em termos da dívida, do défice e do rendimento. Está mais pobre na educação e na cultura.
Este período pré-eleitoral está repleto de discussões sobre o vazio. Não tem havido um debate sério sobre o modelo de sociedade "low-cost" implementado durante estes quatro anos, onde parte substancial da população vive com um rendimento mínimo (quando não está desempregada), com um reflexo sério sobre a economia interna. (...)
Os partidos políticos, da posição e da oposição, têm obviamente ideias diferentes sobre a cultura (aquilo que, no fundo, nos distingue enquanto nação autónoma). Entre a direita e a esquerda há uma visão oposta sobre o valor da cultura: aquela aposta sobretudo na rentabilização da oferta patrimonial ou cultural, nunca a vendo como investimento; esta aposta no investimento mas, muitas vezes, acaba refém das patrulhas ideológicas e dos "clubes de amigos" que dele vivem. Nenhum discute seriamente o valor do audiovisual no espaço da língua portuguesa e global e nos riscos que podem advir de quem tem financiado esta cadeia de produção deixar de o fazer e fazer implodir todo um sector, como poderá ser no espaço televisivo. Tudo isso tem como fundo a questão da intervenção do Estado na cultura, algo que o actual Governo acha obviamente um disparate, não entendendo que o Estado tem de impulsionar a criatividade e o questionar, porque de outra forma as sociedades estagnam e tornam-se pantanosas.
Mas nesta sociedade onde todo aquele que é considerado um "intelectual" é visto com desconfiança, já nada espanta. Este é o reflexo do modelo económico americano que se reforçou após a II Guerra Mundial. E onde a ciência (gerida por tecnocratas e por quem quer sobretudo rendimento) passou a guiar a humanidade. Partindo do pressuposto que o faz melhor do que os saberes tradicionais ou criativos. Mas os EUA não dispensam a cultura popular como o seu grande meio de propaganda e forma de conquistar espaço político, como se vê hoje na China. Isso ao contrário de Portugal onde a nossa pobreza se estende hoje à oferta cultural, que o Governo acha que deve existir apenas se tiver mecenato ou apoio privado por detrás. Mas, claro, num país de vistas curtas isso também não se debate. Não se compreende que é dos universos criativos que nascem muitas vezes as grandes alterações e vantagens económicas de uma cidade ou de um país. Mas nada surpreende: a incultura reinante na nossa elite política não faz prever nada de substancialmente diferente num futuro próximo.»
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