«Estas eleições vão também pôr à prova a disponibilidade nacional para continuar a assistir a um nivelamento ideológico nunca visto. E isso é um assunto ainda mais sério. Foi isso que noutros países permitiu o surgimento de movimentos mais radicais, porque com esta política o centro das classes médias dilui-se numa amálgama de cidadãos transformados em consumidores.
Vivemos um tempo em que a revolução thatcheriana, a que denominamos neoliberal (mas que se cruza com a neoconservadora de líderes como Blair), se implantou como ideologia dominante. E que assenta em alguns pontos essenciais - o individualismo, a desculpabilização do dinheiro, a competição brutal no mundo do trabalho e a fé insolente nas capacidades próprias contra todos e a uniformização de comportamentos, que a televisão ou os principais objectos de consumo nivelam. Neste mundo, o individualismo anglófono e o velho centralismo soviético forjam alianças.
O Estado tornou-se um centro de negócios para quem o ocupa e que, assim, os distribui mais facilmente, como está a acontecer em Portugal à vista desarmada há muito tempo antes de Passos ou mesmo de Sócrates. (...) O votante, enquanto consumidor, não tem um interesse real pela política, pela configuração activa da comunidade. Não está disposto nem capacitado para a acção política comum. Limita-se a reagir de forma passiva à política, protestando e queixando-se, do mesmo modo que o consumidor perante as mercadorias e os serviços que lhe desagradam. É esta transformação social e ideológica que o PS ainda não entendeu. E não sabe combater.»
Fernando Sobral
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