«Há uma fábrica de agenda setting que produziu esta campanha eleitoral pretensamente pluralista, mas que é artificialmente bipolarizadora, inventada pelos efectivos “donos disto tudo”, os que têm o monopólio do "storytelling" das alternâncias do rotativismo.
Basta consultarmos as centenas de candidatos só em Lisboa e concluirmos como são todos iguais, mas há alguns bem mais iguais do que outros. Daí que a segunda volta, entre Costa e Passos, ao manter o empate técnico, apenas levou à angústia do "playoff". Porque, um quarto de hora antes das eleições, qualquer deles ainda está vivo, mantendo os pilares das pontes de um tédio que, antes de o ser, já o era.
Com efeito, os políticos cimeiros desta transição têm preferido o provincianismo que nos têm governado, invocando o privilégio da "inside information". Querem “pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela – em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz”, como disse Pessoa. Por isso serão tratados como meros feitores de um país, onde, eventualmente, o bom povo português pode querer obrigar os principais partidos a um acordo de interregno (de governo, ou de incidência parlamentar, entre PSD e PS, ou deste com os que podiam ser parceiros de uma velha frente popular). Porque o tabu pode ser desfeito e o totem, deixar de ser respeitado.»
José Adelino Maltez
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