«O céu desperta sempre paixões, ao contrário das eleições portuguesas, uma pobre e maçadora maratona cheia de gafes e ilusões fotocopiadas e cujo resultado é uma mão-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Galileu, se tentasse vislumbrar as nossas eleições, com o seu telescópio caseiro, não se teria emocionado. Teria deslocado a sua atenção para outra paisagem celeste. Contaria estrelas em vez de promessas que se não podem cumprir.
A comédia ligeira em que se transformou a campanha eleitoral mostra que, no essencial, não há um projecto de futuro disponível. (...) Há, claro, um tema tabu no meio do folclore: que fazer com uma vitória eleitoral sem maioria? A coligação PaF e o PS fogem do assunto como se ele fosse uma castanha quente. E é. (...)
Com mais ou menos contorcionismos, saltos à retaguarda ou espargatas, adivinham-se dias cheios de demónios prontos a sair da caixa onde foram encerrados e de sussurros conspiradores nas sombras. Mas ninguém vai poder fugir à mais temível das questões: que fazer com uma provável vitória oferecida por Pirro? Aquele general que dizia: "Mais uma vitória como esta e estou perdido."»
Fernando Sobral
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