27.10.15

Ser ou não ser?



«Cavaco Silva, julga-se, ainda é Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa, mesmo olhando para uma bola de cristal que adivinha o futuro, ainda não é. Mas Marcelo, não sendo PR, tem a noção da função que Cavaco, por motivos que só os deuses descortinam, deixou de ter.

Talvez por cansaço. Ou por distracção. Ou por convicção desleixada. Marcelo disse duas coisas simples: não é hora de dividir os portugueses em bons e maus e não é tempo de apostar num Governo de gestão que seria uma espécie de carrinho de choques sem travões. O ainda PR deveria escutar aquele que poderá ser o futuro inquilino de Belém. É certo que Cavaco vive o dilema que Sérgio Godinho cantou: "Pode alguém ser quem não é?" É difícil. É, para Cavaco, uma tarefa própria de um montanhista que quer escalar o Evereste, mas que se esqueceu de trazer botas apropriadas.

É certo que Cavaco é austero e dá-se bem com a austeridade. Mesmo a das ideias. Por isso torna-se evidente que ninguém, bafejado pelo juízo, vê vantagens num Governo de gestão. Torpedeado, todos os dias, pelo Parlamento que não o deixaria fazer umas coisas e o impeliria a fazer outras. Isto no meio de um OE inexistente. Componentes perfeitos para uma nova temporada de "The Walking Dead".

Cavaco pode não ser bom em estratégia e ser deficitário em táctica política, mas teria de sair da sua câmara de eco, onde a única voz que escuta é a sua. Há grupos de "heavy metal" que fazem isso, mas depois sofrem as consequências auditivas da sua atitude. Portugal precisa de um Governo sensato. Que perceba que não vai repor salários e pensões ou o confisco do IRS por inteiro. Um Governo que não diga, antes das eleições, que devolve 35% da sobretaxa de IRS. E que agora só dá 9,7%. Que finge dar com uma mão e depois faz desaparecer a oferta com um gesto mágico. Também não quer um Governo que, Quixote na luta contra os poderes instituídos, é uma alma santa que polvilha os lugares públicos com "boys" que poderiam ficar desempregados. Por isso Cavaco deveria ter-se resguardado. E ser, ainda, PR.»

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