«Finalmente, temos Governo. Mais de meia centena de dias depois das eleições, Aníbal lá se convenceu a deixar de fazer birras.
Finalmente, temos Governo. Mais de meia centena de dias depois das eleições, Aníbal lá se convenceu a deixar de fazer birras. Foram necessárias mais de 12.000 horas e 31 audiências com pessoas que, suponho, valem um voto, para o quase ex-PR "indicar" Costa para PM. (...)
Acho que isto de indicar, em vez de indigitar, ficou-lhe dos tempos dos pedidos à PIDE.
Depois de tantas audiências, a minha primeira conclusão foi a de que Aníbal não conseguia estar sozinho com a Maria e inventava estas reuniões para estar acompanhado. A outra hipótese era estar a ver se se livra das bolachas e compotas que tem lá em Belém e que lhe convém despachar porque já está de saída. A terceira hipótese mais plausível é a de que Aníbal só quer enxovalhar e mostrar quem manda. É o maluco/chato das reuniões de condóminos. (...)
Vamos lá recordar, que dizem que é viver. Primeiro, Aníbal indigita o Governo que sabe que vai ser chumbado no primeiro dia. Depois exige garantias a um Governo com o apoio parlamentar da maioria, e recordemos, se ainda formos capazes, que este era o mesmo Aníbal que não mandava orçamentos anticonstitucionais para fiscalização preventiva para não atrasar os orçamentos. A verdade é que o dia mais bem conseguido de Cavaco, desde as eleições, foi o 5 de Outubro.
Resumindo, Cavaco é o novo Júlio Isidro. Costa vai ter de ir buscar um presunto no cimo de um poste ensebado se quiser ser PM. Cavaco age como se fosse o sultão da nação. Só dá a filha em casamento depois de o noivo cumprir umas quantas missões. Costa só pode ser PM se for pelo mundo e lhe trouxer um presépio feito por virgens ruivas com as mais raras conchas do universo, se decapar um quiosque só com um garfo e se for capaz de comer dois linces da Malcata com uma palhinha. Cavaco só aceita Governo que lhe satisfaça os desejos de grávido: quer iscas com leite creme. (...)
Depois da longa odisseia para nomear Costa, Aníbal ainda fez mais seis pedidos, entre eles a garantia da estabilidade do sistema financeiro. É como se Costa fosse demasiado grande para cair. A minha questão é: como é que o Cavaco consegue topar se há estabilidade do sistema financeiro se garantiu que o BES estava sólido? Cavaco é parte da instabilidade do sistema financeiro, seja através do BPN, patrocinado por si, ou de análises sobre a solidez do BES. Mas que tipo de garantias quer o PR em relação ao sistema financeiro? Essa função não é do governador do Banco de Portugal? Será que o PR retirou a idoneidade a Carlos Costa? No fundo, isto é apenas Cavaco a confessar que, se calhar, o sistema financeiro está por um fio.
Bem sei que Costa é um homem de diálogos, seja cara a cara, por carta ou até por SMS, mas eu nunca teria respondido às exigências de Aníbal. Da ideia que tenho de Cavaco, eu enviava o envelope mas, em vez da carta, metia uma nota de cem euros lá dentro. Acho que ao meio-dia, do dia seguinte, já estava a coisa resolvida.
Moral da história: Aníbal termina a sua carreira política atacado por tudo e todos. Até Marcelo já perdeu a paciência para o PR e disse que, quanto à estabilidade do sistema financeiro, considerava tal exigência "estranha e insólita". Todos lhe batem. Ao longo desta presidência, Cavaco transformou-se na pinhata da nação. Já vai tarde.»
João Quadros
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