4.11.15

Oxalá chova café!



«Há muitos anos Juan Luís Guerra pedia, numa das suas mais conhecidas canções, que "Ojalá que llueva café", uma forma de pedir aos céus que chovesse café para que os camponeses da República Dominicana não sofressem tanto.

A chuva que caiu em Albufeira no domingo fez cair do céu um ministro, que se chama, segundo se julga saber, Calvão da Silva e que não tem uma voz tão cristalina como Juan Luís Guerra. Azar nosso. A queda de Calvão, no lugar de um anjo, permitiu perceber que deste novo Governo não se pode esperar muito, para lá de palavras e de uma devoção religiosa nos seguros. Ou seja, os portugueses podem deixar de acreditar no Governo: ou governam-se por eles ou acreditam nos deuses. É uma boa forma de um ministro lavar as mãos na chuva como se fosse um Pilatos mundano. (...)

O mais fantástico ainda é um ministro do Estado português atirar as responsabilidades para o divino, para o Deus em que os portugueses acreditam. Mas este não pode ser uma desculpa para as omissões do Estado nem para a irrelevância da função de ministro da Administração Interna.

Calvão diz: "Houve uma fúria da natureza que se revoltou. Deus nem sempre é amigo, também acha que de vez em quando nos dá uns períodos de provação." Para Calvão os portugueses portaram-se mal. E, assim, dos céus, caiu o dilúvio. E, em forma de raio, um ministro.»

Fernando Sobral

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