3.12.15

O terramoto



«Cecil B. DeMille deu uma vez um conselho aos aspirantes a realizadores: "Comecem com um terramoto e depois construam um clímax."

DeMille realizou, por exemplo, "Sansão e Dalila", o épico religioso sobre o lutador cujo segredo da força estava em não cortar o cabelo, e a mulher que o seduz descobre o que o faz forte e o trai. António Costa, com um gesto mágico, provocou um terramoto na vida política nacional: Passos Coelho desmoronou-se, Cavaco Silva refugiou-se num abrigo e ele foi nomeado primeiro-ministro. (...)

Há, neste novo ciclo político, quem ainda viva a pensar que uma catástrofe se pode viver em câmara lenta e que, em dado momento, se pode carregar num botão que diz "pausa". No meio de tudo isto o PSD e o CDS acenam com o apocalipse em versão de moção de censura. Nada que espante: os próximos meses serão de regresso à Idade da Pedrada: o Governo será o alvo de todas as pedras.

Mas, depois do OE aprovado, e de se saber se Bruxelas flexibiliza a sua ração de austeridade para que Paris (e eventualmente Roma e Madrid) não quebre todos os compromissos orçamentais, se verá qual o território que António Costa pisará. Este é um Governo do PS. Mas que terá de negociar permanentemente à esquerda. E com Bruxelas. Perante a guerra de guerrilha da direita. Costa não tem perfil para ser o Sansão traído do filme de Cecil B. DeMille. Mas há muitas Dalilas por aí.»

Fernando Sobral

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